O estado do Paraná tem enfrentado um aumento alarmante nas denúncias de maus-tratos a animais, com uma média de uma nova ocorrência registrada a cada 48 minutos. Em 2024, foram contabilizados 11.042 relatos por meio do Disque Denúncia 181, um salto significativo em relação aos 9.458 registros do ano anterior. Além disso, 2.295 crimes foram formalmente registrados sob o artigo 32 da Lei 9.605/98, que criminaliza a prática de abusos contra animais silvestres e domésticos. Os dados foram obtidos pela Secretaria de Segurança Pública do Paraná (Sesp) e indicam uma tendência crescente nessa problemática social.
De acordo com Guilherme Dias, Delegado-Chefe da Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (DPMA) da Polícia Civil do Paraná, a evolução na percepção pública sobre os animais desempenha um papel crucial nesse aumento de denúncias. “Atualmente, muitos veem os animais como membros da família, em vez de meros objetos de propriedade”, explicou o delegado. Essa mudança de paradigma tem incentivado a população a se manifestar contra abusos e a buscar apoio das autoridades competentes.
O delegado destaca que o crescimento contínuo das denúncias está diretamente ligado à mobilização de pessoas apaixonadas pela causa animal, que não hesitam em reportar casos de crueldade. “Enquanto uma parte da sociedade avançou em sua visão sobre os direitos dos animais, outra ainda mantém práticas cruéis”, afirmou Dias. Ele acredita que a pressão social para que as autoridades ajam em casos de maus-tratos é cada vez mais forte.
A Polícia Civil do Paraná tem se destacado como referência nacional na luta contra maus-tratos a animais, resgatando mais de mil animais anualmente e realizando centenas de prisões relacionadas a esses crimes. Para se ter uma ideia do impacto dessa atuação, o segundo estado que mais realiza resgates não chega nem a um décimo dos números alcançados pelo Paraná.
Contudo, o trabalho da polícia vai além das operações de resgate; ele envolve também parcerias com organizações não governamentais e protetores independentes que colaboram ativamente na proteção dos animais. Dias salienta que sem esse suporte comunitário seria impossível alcançar os resultados atuais.
Embora a violência extrema contra animais seja um problema sério, o tipo mais comum de maus-tratos identificado pela DPMA é a desídia, caracterizada pela negligência e abandono dos pets. “Infelizmente, encontramos muitos animais em situações deploráveis: presos em coleiras curtas sem alimentação adequada ou cuidados médicos”, lamentou Dias.
Para denunciar casos suspeitos de maus-tratos, o delegado recomenda que os cidadãos forneçam informações precisas, incluindo localização e evidências visuais quando possível. As denúncias podem ser feitas pelo site oficial da Polícia Civil ou através do Disque Denúncia 181, que garante anonimato ao denunciante.
Em sua trajetória na DPMA nos últimos três anos, Dias lidou com casos impactantes. Um deles envolveu um homem suspeito de envenenar cães em um condomínio em Pinhais, enquanto outro caso emblemático resultou no resgate de 300 animais de uma acumuladora em Curitiba.
As histórias revelam não apenas as atrocidades cometidas contra os animais, mas também o potencial para reabilitação e amor que eles podem receber após serem resgatados. Em um caso notável, um cão terminal foi adotado por uma família que também enfrentava desafios com câncer, demonstrando como laços profundos podem ser formados mesmo nas circunstâncias mais adversas.
A situação dos maus-tratos a animais no Paraná evidencia não apenas um desafio social significativo, mas também uma oportunidade para transformação cultural e educação sobre os direitos dos seres sencientes entre nós.
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