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Favela de cidade que sediará a COP30 recebe esgoto de bairro de milionários

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ILUSTRAÇÃO
As dificuldades não param por aí. Além do esgoto que será direcionado à comunidade, a Vila da Barca também recebe os resíduos gerados pela construção da Nova Doca

A Vila da Barca, localizada em Belém, é uma das maiores favelas de palafitas da América Latina, abrigando mais de 7 mil residentes em condições habitacionais precárias. Os moradores da comunidade têm enfrentado desafios significativos devido às obras da Nova Doca, um projeto que visa atender ao bairro vizinho do Reduto, onde os imóveis podem custar até R$ 13 milhões.

Ao adentrar a Vila pela Rua Professor Nelson Ribeiro, é possível observar um intenso movimento de caminhões e máquinas pesadas, resultando em estragos nas vias locais. A infraestrutura já debilitada se deteriora ainda mais, criando poças de lama e dificultando a mobilidade dos habitantes, especialmente de grupos vulneráveis como idosos e crianças.

As intervenções na área são parte dos preparativos para a COP30, conferência internacional sobre clima programada para ocorrer em novembro. Com um investimento de R$ 310 milhões, o governo do estado está focado na despoluição do canal e na melhoria das condições de drenagem e abastecimento de água. Entretanto, a despeito das promessas de modernização para a área do Reduto, as consequências dessas obras recaem desproporcionalmente sobre a Vila da Barca.

Recentemente, foi publicado um decreto desapropriando um terreno na comunidade para servir como destino do esgoto gerado no Reduto. Tal decisão gerou preocupação entre os moradores, que já lidam com a falta de saneamento básico adequado. A enfermeira Socorro Lobato expressa sua indignação ao afirmar que o acúmulo de poeira resultante das obras tem afetado a saúde da população local, especialmente das crianças.

As dificuldades não param por aí. Além do esgoto que será direcionado à comunidade, a Vila da Barca também recebe os resíduos gerados pela construção da Nova Doca. Moradores relatam que o tráfego intenso de caminhões tem danificado ainda mais as ruas pavimentadas com bloquetes. Esse cenário agrava os problemas de saúde pública na comunidade, que já sofre com a falta de água potável e coleta irregular de lixo.

O Censo 2022 revelou que Belém é a capital brasileira com maior taxa de favelização, com 57% da população vivendo em favelas. No contexto dessa realidade alarmante, a Vila da Barca se destaca como uma das comunidades mais afetadas pela precariedade dos serviços urbanos.

Várias lideranças comunitárias têm levantado suas vozes contra o que consideram racismo ambiental. Suane Barreirinhas, educadora popular e ativista local, critica a falta de diálogo entre as autoridades e os moradores sobre os impactos das obras. Para ela, a imposição desses projetos sem consulta prévia reflete uma dinâmica discriminatória em que as populações mais vulneráveis pagam o preço por decisões tomadas sem consideração por suas realidades.

A servidora pública Wanda Lopes compartilha relatos de contaminação da água e problemas sanitários graves que afetam diretamente a saúde dos residentes. Com um sistema de abastecimento falho e esgoto a céu aberto nas proximidades, os habitantes enfrentam riscos constantes à saúde.

Os especialistas em urbanismo e saneamento também apontam para as desigualdades nas prioridades urbanas em Belém. O geógrafo Thiago Sabino observa que enquanto grandes investimentos são direcionados ao Reduto, a Vila da Barca permanece negligenciada em relação aos serviços básicos essenciais.

A situação atual ressalta a urgência de uma abordagem mais equitativa nas políticas públicas relacionadas ao urbanismo e ao saneamento básico. Apesar das obras em curso serem apresentadas como melhorias para o bem-estar da cidade como um todo, é evidente que seus impactos diretos recaem desproporcionalmente sobre as comunidades menos favorecidas.

Frente à crescente pressão para melhorar as condições sanitárias e urbanísticas na Vila da Barca, a população clama por atenção imediata às suas demandas básicas e por um compromisso real das autoridades em garantir direitos fundamentais como moradia digna e acesso à saúde.

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