Por algum tempo, mesmo quem nunca teve problema de insônia até então, passou a acordar repentinamente, ouvindo as bombas que os milhares de policiais jogaram em professores, servidores e estudantes, na tarde de 29 de abril de 2015, nas ruas e praça em frente da Assembleia Legislativa do Paraná.
O ‘Massacre do Centro Cívico’ – como ficou conhecido o ataque de milhares de policiais militares com tanques e cassetetes em punho – aos professores/servidores públicos, que protestavam contra um ‘saque’ que o então governador de Beto Richa (PSDB) pretendia nos recursos do Paraná Previdência é um marco da imposição da violência para aprovar projetos governistas. E não foi pouco o ‘investimento’ oficial no exercício da violência no 29 de abril: cães treinados, bombas de gás lacrimogêneo, jatos de água, balas de borracha, gás de pimenta e helicópteros que sobrevoavam a área, ‘na mira’ de manifestantes que procuravam abrigo em pontos de ônibus e sob as árvores da Praça Nossa Senhora de Salete, no centro curitibano.
Após mais de duas horas de ataques e perseguições, centenas de vítimas foram atendidas pelo serviço de saúde municipal (em Curitiba) e mais de 300 atingidos registraram boletim de ocorrência, enquanto a assessoria governista bombardeada a mídia regional com desinformação de que estudantes e professores confrontaram policiais, estavam armados e até fabricaram bombas em praça pública. Aos poucos, as mentiras foram caindo, como saiu de cena um dos secretários responsáveis por espalhar inverdades.
Depois da pancadaria e da violência, custeada pelo dinheiro público, uma maioria de deputados da base situacionista (PSDB, PFL, demos, PSD e aliados) autorizou o saque ao caixa do PR Previdência e também deixou as marcas do autoritarismo, da violência e de desrespeito aos mais de 20 mil manifestantes que ocuparam o Centro Cívico paranaense ao longo do ‘Massacre’, que marcou o 29 de abril de 2015. “Vamos votar”, pois “a bomba não é aqui dentro (da assembleia)”, defendeu um governista no plenário do legislativo paranaense, enquanto manifestantes tentavam escapar dos ataques policiais na praça.
Foi um massacre, sim, que envolveu o uso de dinheiro público, a mobilização de milhares de policiais de diferentes regiões do estado, um aparato de ditadura e violência para evitar que cerca de 20 mil manifestantes não se aproximassem da assembleia legislativa, onde deputados queriam aprovar o pedido do chefe de um governo que, três anos depois, seria preso por suspeita de má gestão e envolvimento em esquemas de denúncia de corrupção.
Aos veículos que recebiam verbas públicas para divulgar desinformação propagada por assessores e comissionados, espera-se ainda que o episódio sirva de lição e aprendizado, pois as memórias das lutas pela Educação no Paraná permanecem vivas e não esquecem os responsáveis, cúmplices ou serviçais dos desmandos de uma viciada política provinciana.
Ao descomemorar os 10 anos da violência imposta pelo estado, operada por um governo estadual com apoio parlamentar, é preciso insistir na divulgação dos acontecimentos que marcam uma página triste na história de lutas pela Educação Pública no Paraná. Lembrar e descomemorar é preciso para que jamais se repita. Silenciar não é possível para que nunca mais aconteça.
Por fim, vale destacar que as informações a respeito do histórico ‘Massacre do Centro Cívico’ são de conhecimento público, pois foram noticiadas por veículos de todo o Brasil e inclusive em outros países. Vale conferir o documentário audiovisual disponível, rever as imagens que mostram a violência e reler textos e reflexões feitas por incontáveis colegas, que não silenciam a qualquer desrespeito e injustiça. Basta de violência contra profissionais da Educação, seja no Paraná ou em qualquer do mundo, pois em uma democracia é inaceitável o uso da violência (seja física ou simbólica) para retirar ou colocar em risco direitos e conquistas de trabalhadores.
Sérgio Gadini, jornalista e professor. E-mail: [email protected]
Leia mais: Seleção Brasileira surpreende com uniforme reserva vermelho para a Copa do Mundo de 2026!