Cabeça baixa, costas curvadas à frente como quem carrega o fardo de uma excessiva empreitada. Beiço proeminente à frente, muito à frente do resto do corpo e ela perambulava como quem sempre está contrariada com alguém, e sempre estava. Todos os dias úteis do ano não seriam suficientes para devolver-lhe uma diminuta parcela de bom humor que fosse.
A primeira tentativa de sorrir para ela resultou em choque com todos que a encontraram, atropelados por um mau gênio de natureza crônica. Contumazes eram seus comentários, invariavelmente em tom de crítica, e ela sempre afirmava que alguém não havia feito algo direito, outro alguém não ajudou, um terceiro até escondeu o que ela deixará reservado em local exposto.
Um pequeno fragmento do tempo, aquele que carrega a fração que vai ficando cada vez mais distante e longínqua, entretanto capaz de manter da lembrança apenas um extrato do que foi mais expressivo. E ela marcou, sim, pela marca da tez sisuda, olhos desconcertados e contrariados. Figurinha miúda, era pequena no corpo e gigante na chatice, azedume a tentar obscurecer qualquer prenúncio de sorriso.
Quase trinta anos e ainda vejo aqueles pés minúsculos caminhando qual corpo de ancião já cansado da vida. O uniforme branco não portava um anjo, ao contrário disto, o ser era terrestre e enfadonho.
Autoria: Renata Regis Florisbelo