Na segunda gaveta do armário da pia da cozinha, tão previsível, ficam objetos desparelhados. Abridor de garrafas, funil, escovas e coisas que nem lembro que existem na minha casa, que abriga um ser nada convencional: eu.
Tempos atrás também habitava ali outra pessoa cujos dedos ágeis visitavam a tal gaveta para apanhar uma tesoura. Com ela infinitas coisas eram abertas, embalagens exageradamente fechadas, até pacotes de ração e outras coisas aleatórias.
Aqueles dedos certeiros, após utilizar a tesoura, tratavam de lava-la com muito detergente e espuma. Aquilo me causava mal estar: por que macular uma inócua tesoura com tanta espuma? Perturbava ver a pobre aberta em extremo afastamento das duas metades apenas para secar ao sabor da bancada da pia.
Não gosto de tesouras sendo lavadas. Tesouras deveriam ser livres para apenas cortar e que não lhe venham com esfregação e sabão. Agora, na minha solidão, nenhuma tesoura se submete ao sabão.
Autoria: Renata Regis Florisbelo
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