Na caixinha de leite ela se acomodava. Uma muda de roseira recém acolhida. Estava murcha, sofria com o calor, com os dias abafados, com os ânimos exacerbados, com os humores destemperados. Na mão do homem era carregada. Ele tão abatido, murcho e cabisbaixo quanto ela. Contudo, ele não era flor, não tinha cor de rosa, não tinha formato de rosa, não tinha viço de rosa, ainda que ele murcho se assemelhasse àquela rosa. Sentado na calçada ele estava. Abordava os passantes, oferecendo a muda de roseira mal aguada. Gente entrando, gente saindo e ele a oferecer a muda que também por ele falava. O homem perseverava, vez em quando, mais uma tentativa, mais um trejeito para oferecer a muda quase enjeitada. Não era feliz a cena testemunhada, era de abater o ânimo de qualquer pessoa já fragilizada. No fundo, a muda parecia já condenada. O homem escolhia um sorriso, o último ainda não abatido que ele guardava para fazer par com a muda abatida. Oferta que valia por uma vida.
Autoria: Renata Regis Florisbelo
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