O Paraná segue na dianteira do Brasil quando o assunto é doação de órgãos. Pelo segundo ano consecutivo, o Estado lidera o ranking nacional com 42,3 doadores por milhão de população (pmp), mais que o dobro da média nacional, que é de 19,2 pmp. Os dados são do Registro Brasileiro de Transplantes (RBT), divulgado nesta quinta-feira (10) pela Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO).
Além da taxa recorde de doadores, o Paraná também se destacou no número de órgãos efetivamente transplantados, com 36 pmp, superando em muito a média nacional de 17,5 pmp.
Solidariedade que salva vidas
Os números expressivos refletem um esforço coletivo e histórias emocionantes. Um exemplo é Márcia Soeli Pereira, de Pato Branco, que perdeu o filho de 37 anos em decorrência de um aneurisma cerebral. “Eu aceitei doar todos os órgãos do meu filho e ele salvou três vidas com o fígado e os dois rins. Peço às pessoas que doem, porque isso é um incentivo a mais para continuarmos vivendo”, afirmou emocionada.
Outro relato tocante é o de Alessandra Rosa da Silva, moradora de Curitiba, que precisou de um transplante de coração. “Meus batimentos chegavam a 14 por minuto. O transplante foi minha única chance. Hoje agradeço à família que fez essa escolha mesmo na dor”, diz.
Para Jair Cabral de Souza, de Pinhais, a doação foi sinônimo de renascimento. Após descobrir que seu coração funcionava apenas 19%, ele recebeu o novo órgão em julho de 2024. “Se não tivesse surgido essa doação, hoje eu não estaria aqui. Hoje, sou doador também”, conta.
Menor taxa de recusa familiar do Brasil
No Brasil, mesmo que a vontade de ser doador esteja registrada, a autorização da família é fundamental. No Paraná, essa conversa tem sido mais eficaz: a taxa de recusa familiar é de apenas 28%, a menor do País, enquanto a média brasileira é de 46%.
Segundo Beto Preto, secretário de Estado da Saúde, isso se deve ao preparo das equipes e à cultura solidária do paranaense. “Mesmo na dor, num momento de perda, as pessoas escolhem salvar vidas. Isso é motivo de orgulho”, disse.
Transplantes em números
Em 2024, o Paraná realizou:
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1.248 transplantes de córneas
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550 transplantes de rim (52 de doadores vivos e 498 de falecidos)
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304 de fígado
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6 de pâncreas
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43 de coração
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410 transplantes de medula óssea – 2º maior número do Brasil, atrás apenas de São Paulo
Em destaque também:
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2º lugar nacional em transplantes de rim pmp (46,5 pmp)
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3º em fígado pmp (25,7 pmp)
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4º em coração pmp (3,6 pmp)
Referência também em transplantes pediátricos
O Paraná é um dos Estados mais atuantes nos transplantes pediátricos:
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2º lugar em transplante de coração entre 0 e 17 anos (2,4 pmp)
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3º em fígado (6,1 pmp)
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5º em rim (5,2 pmp)
Capacitação e estrutura de ponta
O destaque paranaense é fruto também de investimento em capacitação. Em 2023, o Sistema Estadual de Transplantes (SET/PR) promoveu:
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28 cursos sobre morte encefálica para médicos
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19 sobre o processo de doação
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8 cursos de acolhimento familiar
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75 palestras de sensibilização
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Capacitação de mais de 1.100 profissionais de saúde
Em 2024, até agora, já foram capacitados 565 profissionais com cursos e oficinas especializados.
Segundo Juliana Ribeiro Giugni, coordenadora do SET/PR, “o trabalho técnico aliado à consciência das famílias é o que faz o Paraná ser referência nacional”.
Sistema robusto e investimentos estratégicos
O SET/PR é composto pela Central Estadual de Transplantes em Curitiba e quatro Organizações de Procura de Órgãos (OPOs) em Curitiba, Londrina, Maringá e Cascavel. Ao todo, são:
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700 profissionais envolvidos
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70 hospitais notificantes
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34 equipes transplantadoras de órgãos
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72 equipes para tecidos
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3 bancos de tecidos
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5 laboratórios de histocompatibilidade
Para melhorar a logística, o governo estadual renovou a frota do SET/PR com 18 veículos novos, num investimento de R$ 1,9 milhão. O Estado também conta com estrutura aérea com aviões e helicópteros da Casa Militar.