O governador Ratinho Junior quer garantir sua fatia na herança política deixada por Jair Bolsonaro. Fiel ao ex-presidente desde 2018, quando apoiou sua eleição e reeleição, Ratinho consolidou, com isso, uma relação naturalmente distante do PT e do presidente Lula — rejeição que, no Sul, tem peso eleitoral relevante.
Apesar de sempre ter estado no mesmo palanque que Bolsonaro, sua atuação no campo bolsonarista foi discreta. Raramente participou de eventos organizados pelo ex-presidente e evitou aparições em manifestações mais extremadas.
No entanto, no último final de semana, durante o ato pró-anistia em São Paulo, Ratinho furou a bolha e se mostrou, com mais ênfase, alinhado ao bolsonarismo. O evento, marcado pela presença de seis governadores — quatro deles com pré-candidaturas à Presidência —, teve como principal objetivo pressionar o Congresso Nacional a votar o projeto de lei que concede anistia aos presos e condenados pelos atos de 8 de janeiro.
Ratinho Junior (Paraná), Ronaldo Caiado (Goiás), Romeu Zema (Minas Gerais) e Tarcísio de Freitas (São Paulo) já se posicionam como possíveis adversários de Lula e do PT em 2026. Com Bolsonaro fora da disputa, por estar inelegível, a direita se vê diante da necessidade de reorganizar seu campo e encontrar uma nova liderança viável nacionalmente.
Com exceção de Tarcísio, que possui maior projeção, os demais governadores ainda enfrentam o desafio de ampliar sua visibilidade para além dos próprios estados. Apesar da relação histórica com Bolsonaro, é cada vez mais evidente que esses nomes buscam conquistar parte de seu eleitorado e atrair o apoio de lideranças bolsonaristas que não conseguirão viabilizar uma candidatura própria.
Mesmo após a sinalização política no evento em São Paulo, Ratinho ouviu do próprio Bolsonaro, durante uma agenda no Paraná, que o enxerga como nome ideal para o Senado, ao lado do deputado Filipe Barros. Foi um recado direto: sua candidatura ao Planalto não conta, pelo menos por enquanto, com o aval do ex-presidente.
Nesse tabuleiro, o movimento de Ratinho pode ser interpretado tanto como um passo ousado em direção à corrida presidencial quanto como uma estratégia de reposicionamento dentro do espectro da direita pós-Bolsonaro — que ainda procura seu novo nome de consenso para 2026.
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