A Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) tem desempenhado um papel essencial na reinserção de migrantes e refugiados na sociedade brasileira. Através de iniciativas de extensão como o projeto Promigra, “Processos Migratórios e Intercâmbio: Inclusão Social e Diversidade Cultural”, a instituição tem oferecido suporte a estrangeiros que buscam recomeçar suas vidas em Ponta Grossa. Nos últimos três anos, mais de 140 pessoas foram atendidas por ações que vão desde cursos de português a orientações jurídicas e atividades de integração cultural.
O projeto, que reúne professores e estudantes dos cursos de Serviço Social, Jornalismo, Pedagogia e Estudos da Linguagem, é uma das principais portas de entrada para migrantes em situação de vulnerabilidade. As ações incluem rodas de conversa sobre xenofobia, oficinas com crianças, cursos gratuitos e apoio na regularização de documentos e revalidação de diplomas.
A coordenadora do Promigra, professora Lenir Mainardes, explica que a barreira linguística e o desconhecimento dos direitos básicos dificultam a adaptação dos migrantes. “O papel da universidade é garantir acolhimento e segurança para que essas pessoas possam reconstruir suas vidas com dignidade”, afirma.
Além do Promigra, a UEPG também está desenvolvendo um novo projeto voltado ao empreendedorismo de migrantes. A iniciativa será lançada no segundo semestre deste ano e terá como foco a capacitação em plano de negócios, formalização de atividades e participação em feiras, conforme explicou a professora Marilisa do Rocio Oliveira, do Departamento de Administração.
Recomeços cheios de desafios
A venezuelana Belky Liliana Rivera Dávila é uma das migrantes que encontraram apoio na universidade. Técnica administrativa e bacharel em Gestão Ambiental, Belky deixou a Venezuela em 2019, fugindo da crise econômica e política. Após um percurso longo e arriscado até chegar ao Brasil, ela passou por diversos estados até se estabelecer em Ponta Grossa, onde buscou ajuda na Cáritas e no Promigra.
“Fui muito bem acolhida, e o curso de português me ajudou bastante. Mas ainda enfrento preconceito por causa do sotaque. Muitos empregadores fecham portas por isso”, relata. Com um filho adolescente e apoio ocasional do filho mais velho que vive na Espanha, ela segue buscando uma vaga no mercado de trabalho. “Não posso desistir. Já enfrentei muita coisa. Meu filho é minha motivação.”
O paraguaio Carlos Daniel Piñanez Monges, ex-diretor de uma escola de artes em Assunção, veio ao Brasil para tratar problemas graves de saúde. Com o apoio da família em Ponta Grossa e auxílio da Cáritas, ele encontrou na UEPG uma forma de recomeçar. Aprendeu português, retomou sua paixão pela escrita e participou de peças teatrais em igrejas locais. “Ganhei uma nova família aqui”, diz, emocionado.
Do leste europeu ao interior do Paraná
A ucraniana Yaroslava Muravetska, doutora em Teoria Literária, encontrou na UEPG um refúgio acadêmico após os impactos diretos da guerra em seu país. Ela participa do Programa Paranaense de Acolhida a Cientistas Ucranianos, voltado a profissionais afetados pelo conflito.
Yaroslava chegou ao Brasil em 2024, após fugir dos bombardeios em Kiev. Hoje, ela mora em Ponta Grossa e está em processo de adaptação à nova cultura e idioma. Apesar das dificuldades iniciais, reconhece a hospitalidade dos brasileiros. “Aqui, as pessoas têm paciência. Não me tratam com indiferença por ainda estar aprendendo o idioma”, afirma. Ela pretende seguir com suas pesquisas sobre literatura comparada e ferramentas digitais na análise textual, além de promover o intercâmbio entre culturas brasileira e ucraniana.
Acolhimento que transforma
As histórias de Belky, Carlos e Yaroslava refletem o impacto transformador do acolhimento oferecido pela UEPG e seus parceiros. Para muitos migrantes, o primeiro contato com a universidade marca o início de uma nova jornada, cheia de desafios, mas também de possibilidades. Em comum, todos carregam a esperança de um recomeço mais digno, algo que só se concretiza quando há instituições comprometidas com a inclusão, como a UEPG tem demonstrado ser.
Com supervisão de Marcos Silva.
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