Uma recente reportagem do The New York Times trouxe à tona uma intricada rede de espionagem russa que operou no Brasil ao longo das últimas décadas, revelando o uso do país como um centro estratégico para a formação e atuação de espiões. Segundo as informações, a trama se estendeu por anos, com diplomatas russos supostamente envolvidos na criação de identidades falsas para agentes secretos.
O relato de uma testemunha, que prestou serviços ao Consulado da Rússia no Rio de Janeiro por treze anos, foi crucial para elucidar como esses espiões conseguiram apagar suas origens e assumir novas vidas no Brasil. O depoimento foi gravado em uma sala da Polícia Federal, sob a supervisão de promotores e agentes do FBI, em um esforço colaborativo internacional para desmantelar essa rede.
A testemunha revelou que recebeu solicitações frequentes para enviar quantias substanciais de dinheiro para o exterior, incluindo uma remessa de R$ 40 mil. “Quando esses pedidos se tornaram frequentes, comecei a me preocupar”, afirmou ele. O caso mais notório é o de Sergey Cherkasov, que adotou o nome brasileiro Victor Miller Ferreira. Cherkasov chegou ao Brasil em 2010 e, após obter documentos falsificados com a ajuda de cúmplices, conseguiu se infiltrar em instituições importantes, como o Tribunal Penal Internacional em Haia.
Em abril de 2022, Cherkasov começou um estágio no tribunal na Holanda. No entanto, sua verdadeira identidade foi descoberta pelas autoridades americanas, levando à sua deportação e subsequente prisão no Brasil pela Polícia Federal.
Investigadores acreditam que as atividades do consulado incluíam verificar certidões de óbito para facilitar a emissão de documentos falsos. A utilização de identidades forjadas permitiu que novos espiões buscassem cidadania brasileira sem levantar suspeitas.
Além disso, a reportagem do The New York Times listou nove espiões russos ativos no Brasil. Entre eles estava Gerhard Daniel Campos Wittich, que gerenciava uma empresa de impressão 3D no centro do Rio de Janeiro antes de fugir do país há três anos. Sua verdadeira identidade era Artem Shmyrev, e as investigações revelaram inconsistências nos documentos que ele utilizava.
Outro agente mencionado era Aleksandr Andreyevich Utekhin, que se disfarçava como joalheiro sob o nome de Eric Lopes. Ele desapareceu antes que a Polícia Federal pudesse abordá-lo. Casais russos conhecidos como Manuel Francisco e Adriana Carolina Pereira também fugiram do Brasil antes das investigações alcançá-los.
A complexidade desse esquema revela não apenas a audácia dos espiões russos, mas também as falhas nas verificações documentais no Brasil. Em meio a esse cenário, advogados defendem que a prisão de Cherkasov carece de provas concretas sobre atividades espiãs, enquanto o governo russo busca sua extradição por acusações não relacionadas à espionagem.
As investigações continuam em curso, com autoridades brasileiras e internacionais trabalhando juntas para desmantelar esta vasta rede de espionagem que utilizou o Brasil como um ponto estratégico ao longo dos anos.
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