O general Braga Netto, ex-ministro da Defesa, acusou o tenente-coronel Mauro Cid de ser “mentiroso” durante uma acareação que ocorreu na manhã desta terça-feira (24). O embate, que durou mais de uma hora e meia, faz parte da ação penal que investiga uma tentativa de golpe de Estado supostamente liderada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.
Essa declaração foi relatada pelo advogado José Luis Oliveira Lima, que representa Braga Netto. Segundo Lima, o general fez a acusação em duas ocasiões distintas durante o encontro, enquanto Cid permaneceu em silêncio, com a cabeça baixa, sem contestar as afirmações.
A acareação foi solicitada pela defesa de Braga Netto, que contesta as declarações de Cid, seu ex-ajudante de ordens e delator no caso. Ambos os réus, que são militares do Exército, se encontraram sob a supervisão do ministro Alexandre de Moraes, responsável pela relatoria do processo.
A legislação brasileira permite que réus solicitem acareações com outros acusados ou testemunhas para confrontar versões divergentes dos fatos diante do juiz. Essa prática é considerada essencial para esclarecer contradições nas declarações apresentadas ao longo do processo.
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O procedimento foi realizado em audiência fechada, conforme determinação do ministro Moraes. Apenas os réus, seus advogados e o procurador-geral da República, Paulo Gonet, estavam presentes na sala. A defesa de Braga Netto criticou essa decisão, argumentando que a restrição violava direitos fundamentais da defesa.
“A prerrogativa da defesa foi violada”, declarou Lima. Ele lamentou a ausência de gravação do ato, afirmando que isso teria permitido uma verificação mais ampla das alegações feitas por ambos os lados durante a acareação.
O ministro Luiz Fux também esteve presente na audiência como membro da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), que será responsável por decidir sobre a condenação ou absolvição dos réus após o término da instrução processual.
A defesa de Braga Netto levanta questões sobre dois pontos centrais da delação de Mauro Cid. O primeiro diz respeito a uma alegação de que o general teria entregue R$ 100 mil em uma sacola de vinho para financiar atividades relacionadas ao golpe. Em outra parte de sua delação, Cid mencionou um plano denominado “Punhal Verde e Amarelo”, supostamente discutido na residência de Braga Netto para monitorar e assassinar autoridades. O general refuta ambas as acusações e afirma que qualquer encontro em sua casa foi circunstancial e sem conotações conspiratórias.
Braga Netto encontra-se detido desde dezembro do ano anterior sob suspeita de obstruir investigações relacionadas à tentativa de golpe e por tentar obter informações sobre os depoimentos de delação feitos por Cid.
Após a acareação entre Braga Netto e Mauro Cid, uma nova acareação teve início envolvendo Anderson Torres, ex-ministro da Justiça durante o governo Bolsonaro, e o ex-comandante do Exército, general Freire Gomes. A defesa de Torres solicitou esse procedimento para esclarecer aspectos cruciais do depoimento de Freire Gomes, que atua como testemunha no caso, embora não seja réu.
A acareação entre Torres e Gomes continua em andamento.
*Com informações da Agência Brasil
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