A recente desvalorização do real frente ao dólar, que já acumula uma queda superior a 25% nos últimos 12 meses, levanta preocupações significativas entre economistas sobre o impacto que isso terá nos preços de produtos e serviços em 2025. Este fenômeno, aliado à atividade econômica ainda aquecida, poderá resultar em novos reajustes que afetam amplamente o setor de serviços, segundo especialistas consultados.
Com a aproximação do início do ano, os tradicionais aumentos sazonais, como tarifas de ônibus, pedágios e mensalidades escolares, já são esperados e tendem a refletir a inflação acumulada até aqui. Contudo, o que preocupa é o efeito colateral da recente desvalorização cambial e como isso pode se espalhar por diversos setores econômicos ao longo do ano.
O economista-chefe do BMG, Flávio Serrano, alertou para a situação complicada que se inicia em 2025. “A inflação deve ser impactada por uma combinação de reajustes típicos dessa época do ano e a pressão da moeda depreciada”, afirmou. Serrano projeta um IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) de 4,80% para o ano atual, em linha com as estimativas anteriores.
Ele destaca que o principal desafio para o Banco Central reside na propagação da desvalorização cambial para os demais preços da economia. A inflação no setor de serviços é particularmente preocupante, dado seu caráter inercial, onde os efeitos das mudanças nos custos demoram mais para se manifestar.
Por sua vez, Tatiana Pinheiro, economista-chefe da Galápagos Capital, ressalta que a mudança drástica no patamar do câmbio não deve ser subestimada. “A variação de R$ 5 para R$ 6 no câmbio não foi um evento trivial”, comentou. Ela acredita que os efeitos dessa alteração podem levar até 12 meses para se refletir nos preços.
A revisão das projeções de inflação também é uma realidade. Pinheiro elevou sua expectativa inicial de 4,5% para valores superiores em resposta aos múltiplos fatores impactantes, incluindo incertezas políticas internacionais e condições climáticas extremas que podem afetar a produção agrícola.
Além disso, André Braz, economista do Ibre/FGV, argumenta que mesmo com os desafios previstos na agricultura, o controle fiscal interno será vital para mitigar pressões inflacionárias. Ele observa que a insegurança relacionada à política fiscal pode incentivar agentes econômicos a aumentar preços como forma de proteção contra riscos.
Alexandre Maluf, economista da XP Investimentos, compartilha um sentimento mais pessimista. Ele revisou sua previsão de inflação para 2025 para 6,1%, justificando essa alteração pela expectativa de maior desvalorização da moeda brasileira em relação ao dólar. As incertezas sobre a política fiscal continuam sendo um dos principais fatores nessa análise.
Os especialistas concordam que o primeiro semestre deve apresentar uma concentração maior na inflação devido aos múltiplos reajustes esperados e à alta atividade econômica. Em contraste, embora haja pressão inflacionária intensa prevista para fevereiro – onde um aumento próximo a 1,5% é esperado – janeiro poderá apresentar números muito baixos devido ao bônus na conta de energia elétrica oferecido por Itaipu.
Portanto, enquanto o cenário econômico brasileiro enfrenta desafios significativos com a desvalorização do real e seus efeitos em cadeia sobre os preços, a análise cuidadosa das projeções inflacionárias se torna crucial para entender as dinâmicas econômicas no horizonte próximo.
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