A educação em Ponta Grossa é um retrato de contrastes. De um lado, salas de aula improvisadas em containers e goteiras que interrompem as aulas nos dias de chuva revelam a precariedade enfrentada por muitos estudantes e professores. De outro, a fila de 28 candidatos por vaga no curso de Medicina da UEPG expõe as desigualdades de acesso a oportunidades de qualidade. Essas realidades díspares compõem um sistema complexo, que atende mais de 28.500 alunos na educação básica, mas ainda luta para superar deficiências históricas e garantir equidade.
O Masterplan 2043 de Ponta Grossa analisa os desafios e oportunidades para o futuro de Ponta Grossa, e a série de reportagens do Portal BnT analisa o que o documento traça para o futuro da educação no município.
O documento estratégico que traça o futuro do município, coloca a educação como eixo central para o desenvolvimento sustentável. Como destaca Sabrina Ávila Rodrigues, Diretora de Relações Empresariais e Comunitárias da UTFPR campus Ponta Grossa e integrante da Câmara Técnica do Conselho de Desenvolvimento Econômico de Ponta Grossa (CDEPG), “a educação não é um sistema isolado, mas um ecossistema dinâmico que envolve instituições públicas e privadas, desde a educação infantil até a pós-graduação e a qualificação profissional”.
Ela ressalta que o plano foi construído de forma participativa, integrando educação, indústria, comércio e agropecuária, pois “o desenvolvimento desses setores não apenas se beneficia da educação, mas também a impulsiona, criando um ciclo virtuoso de crescimento”.
O retrato detalhado da educação municipal
Os indicadores educacionais de Ponta Grossa contam uma história de contrastes. Enquanto o IDEB de 5,8 nos anos iniciais do fundamental fica abaixo da meta estadual de 6,2, algumas escolas específicas como a EM Professora Therezinha de Godoy, no centro, alcançam notas acima de 7. Essa disparidade se acentua quando analisamos por região:
– Bairros periféricos (Oficinas, Contorno, Ronda):
– IDEB médio de 4,9 nos anos iniciais
– 45% das escolas sem quadra esportiva
– Turmas com média de 32 alunos (acima do recomendado)
– Área central:
– IDEB médio de 6,3
– 80% das escolas com infraestrutura completa
– Turmas com média de 25 alunos
A evasão escolar, que atinge 5,2% no ensino médio, esconde problemas ainda maiores em áreas rurais, como Itaiacoca, onde o índice chega a 12%. Lá, 38% dos alunos faltam por falta de transporte adequado. “Isso mostra que a educação precisa ser pensada de forma integrada, com políticas que levem em conta não apenas a sala de aula, mas também o acesso, a infraestrutura e as condições socioeconômicas das famílias”, analisa Sabrina.
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Os desafios em camadas
Os desafios estruturais da educação em Ponta Grossa se manifestam em três dimensões críticas. A infraestrutura escolar apresenta deficiências alarmantes: 35% das 98 escolas municipais necessitam de reformas urgentes, situação ainda mais grave na zona rural, onde 12 unidades sequer possuem acesso à água potável. Os laboratórios de ciências, fundamentais para o ensino prático, estão presentes e funcionais em apenas 40% das instituições.
No que diz respeito ao corpo docente, a rede enfrenta um déficit de 120 professores, com carências especialmente acentuadas nas áreas de matemática e ciências, enquanto a rotatividade anual de 30% em escolas de áreas vulneráveis compromete a continuidade pedagógica. Além disso, 60% dos educadores nunca tiveram acesso a formação específica em tecnologias educacionais, limitando sua capacidade de inovar em sala de aula.
A dimensão tecnológica revela outro gargalo: a velocidade média de internet de apenas 5 Mbps se mostra insuficiente para atividades básicas como videoaulas, enquanto kits de robótica educacional estão disponíveis em apenas 15 escolas. Nas unidades de educação infantil, a situação é ainda mais precária – 85% delas não possuem infraestrutura adequada para receber tecnologias digitais, comprometendo desde cedo o desenvolvimento das competências digitais essenciais no mundo contemporâneo.
As estratégias em profundidade
As estratégias educacionais em Ponta Grossa estão sendo implementadas em três níveis fundamentais, cada um com iniciativas específicas para superar os desafios identificados. Na educação básica, as ações se concentram em dois eixos principais: a reforma estrutural e a inovação pedagógica. Para o primeiro, está previsto um investimento de R$ 12 milhões destinado à reforma completa de 20 escolas prioritárias, complementado por um projeto pioneiro de instalação de energia solar em 10 escolas rurais, desenvolvido em parceria com a Copel, e pela construção de dois novos Centros de Educação Infantil (CEIs) nos bairros Jardim Carvalho e Santa Paula, que visam ampliar o acesso à educação infantil.
Paralelamente, a inovação pedagógica ganha força com a implantação de metodologias STEAM em 10 escolas, através de parceria com o SESI, a criação de um programa de residência pedagógica que oferece bolsas de R$ 1.200 para professores em formação, e a introdução de kits de robótica adaptados em 20 CEIs até 2025, buscando modernizar as práticas educacionais desde a primeira infância.
No ensino médio, as estratégias se dividem em conectar os estudantes ao mercado de trabalho e reduzir os índices de evasão escolar. Para fortalecer essa conexão, destaca-se a criação de um curso técnico pioneiro em Nanotecnologia aplicada ao agronegócio no IFPR, o desenvolvimento de simuladores de logística voltados para as demandas do Porto Seco, e um edital inovador que financiaria 10 startups juvenis por ano, cada uma com recursos de R$ 5.000.
Já no combate à evasão, medidas concretas incluem a ampliação do transporte escolar rural para atingir 100% dos alunos, a implementação de um programa de auxílio-transporte para estudantes de baixa renda, e a formação de parcerias estratégicas com empresas locais para ampliar a oferta de estágios remunerados, garantindo que os jovens possam conciliar estudo e experiência profissional.
O ensino superior em Ponta Grossa também passa por um processo de expansão e qualificação de oportunidades. Um dos projetos mais ambiciosos é a construção de um novo campus da UEPG no Jardim Carvalho, especialmente voltado para cursos noturnos, democratizando o acesso ao ensino superior. Complementando essa iniciativa, o programa “PG Universitário” ofereceria 500 bolsas de R$ 300 para alunos carentes, ajudando a reduzir a evasão por motivos financeiros. Além disso, a criação de um hub tecnológico focado em agritech e logística 4.0 representa um esforço para alinhar a formação acadêmica às demandas do mercado local, promovendo inovação e desenvolvimento regional.
Juntas, essas medidas buscam não apenas melhorar os indicadores educacionais, mas também transformar a educação em um verdadeiro motor de desenvolvimento social e econômico para toda a cidade.

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Os desafios ocultos
Por trás dos números, existem realidades que exigem atenção especial:
– Educação inclusiva: Apenas 20% das escolas têm salas de recursos para alunos com deficiência, com fila de espera de 18 meses para professores de braile.
– Alimentação escolar: Cortes orçamentários reduziram as refeições de 3 para 2 por dia em 40% das escolas, enquanto as hortas escolares suprem apenas 15% da demanda de verduras.
– Formação docente: 60% dos professores da rede municipal nunca fizeram curso de tecnologia educacional, dificultando a implementação de novas metodologias.
O caminho à frente: investimentos e prioridades
Para concretizar essa transformação educacional, o plano estratégico estabelece três pilares fundamentais de ação. No âmbito financeiro, estão previstos investimentos significativos que totalizam R$ 28 milhões, sendo R$ 15 milhões destinados à construção da Escola Técnica Municipal – um projeto estratégico para a qualificação profissional dos jovens -, R$ 8 milhões para a modernização tecnológica da rede escolar, incluindo a aquisição de equipamentos e melhoria da conectividade, e R$ 5 milhões exclusivos para programas de formação continuada de professores, visando atualizar e capacitar constantemente o corpo docente.
O segundo pilar compreende a construção de parcerias estratégicas que potencializem os resultados das políticas educacionais. Neste sentido, destaca-se a colaboração com a UEPG para oferta de cursos de especialização docente, garantindo qualificação acadêmica de alto nível. Paralelamente, busca-se estreitar laços com o setor privado para ampliar significativamente as oportunidades de estágio, criando pontes entre a formação escolar e o mercado de trabalho.
Além disso, estabelecerá parcerias com o governo federal para viabilizar o acesso a programas estruturantes como o PRONATEC, que amplia as oportunidades de educação profissional.
Por fim, o plano prevê um robusto sistema de monitoramento e avaliação que garanta a efetividade das ações implementadas. Este sistema incluirá a criação de um observatório educacional municipal, responsável por coletar e analisar dados em tempo real sobre o desempenho do sistema educacional. Complementando esta estrutura, um sistema de avaliação semestral das metas, permitindo ajustes rápidos e baseados em evidências.
Fundamentalmente, o plano prevê o envolvimento ativo da comunidade no acompanhamento dos resultados, assegurando transparência e participação social no processo educativo, com conselhos escolares fortalecidos e canais regulares de prestação de contas à população.
Uma agenda para o futuro
A educação em Ponta Grossa está num momento decisivo. Os desafios são muitos – desde a reforma de escolas deterioradas até a formação de professores para as demandas do século XXI. Mas as oportunidades são igualmente significativas, com projetos inovadores que podem colocar a cidade na vanguarda da educação pública de qualidade.
Como destacam os documentos, “a verdadeira transformação educacional só acontecerá quando conseguirmos conciliar inovação com inclusão, tecnologia com humanismo, e qualidade com equidade”.
Sabrina Ávila reforça que o Masterplan trabalha com duas visões complementares: “Primeiro, a educação como motor para aumentar a renda da população, garantindo acesso inclusivo e de qualidade. Segundo, a formação e retenção de talentos para atender às demandas do mercado local, criando uma economia mais dinâmica e inovadora”.
O futuro em construção
Os próximos anos serão decisivos para Ponta Grossa. O desafio é conciliar inovação e inclusão, tecnologia e humanismo, qualidade e equidade. Como afirma Sabrina, “a verdadeira transformação só virá quando a educação for entendida como um projeto de cidade, envolvendo poder público, setor privado, universidades e comunidade”. A tarefa é complexa, mas o potencial de transformação é imenso.
Masterplan 2043: Portal BnT amplia discussão sobre o futuro de Ponta Grossa em podcast semanal
O portal BnT está aprofundando o debate sobre o Masterplan 2043, o plano estratégico que definirá os rumos de Ponta Grossa nas próximas décadas, com uma série multiplataforma que inclui um podcast exclusivo. Toda quarta-feira, especialistas se reúnem no programa “Ponta Grossa Masterplan 2043” para analisar dados, propostas e desafios apresentados no documento elaborado pelo CDEPG.
Além do podcast, o projeto oferece reportagens detalhadas, infográficos e uma newsletter especializada, garantindo que a população tenha acesso a informações qualificadas em diferentes formatos. Todo o conteúdo é amplamente divulgado nas redes sociais e demais canais do BnT, incentivando a participação da comunidade no debate sobre o futuro da cidade.
Cada episódio aborda um novo aspecto do Masterplan 2043, com base em dados oficiais, entrevistas exclusivas e análises técnicas, proporcionando aos ouvintes e leitores uma visão abrangente das oportunidades e desafios que Ponta Grossa enfrentará.
O projeto conta com o apoio de importantes instituições locais, como:
Com essa iniciativa, o BnT reforça seu compromisso com o jornalismo de qualidade e com a construção coletiva de uma cidade mais preparada para o futuro.