Se uma pessoa precisa atravessar a cidade de Ponta Grossa, saindo do bairro de Oficinas, com destino a outro bairro importantíssimo da cidade, Uvaranas, por volta das 8 horas de um dia útil, ela deverá levar cerca de 20 minutos para percorrer este trajeto de carro. Se ela precisa utilizar o transporte público, o tempo para percorrer esta distância é mais que o dobro. A tarefa de simular quanto tempo você leva para sair de sua casa para o trabalho, por exemplo, é fácil, basta ter acesso a um aplicativo simples de mapas, como o Google Maps ou Waze.
Já para saber como vai estar o trânsito de Ponta Grossa daqui a alguns anos é preciso estudo, levantar dados e traçar metas. É isto que o Masterplan 2043 de Ponta Grossa fez e que série de reportagens do Portal BnT aborda. E um spoiler: se nada for feito com relação à mobilidade urbana, daqui a 20 anos o tempo para atravessar Ponta Grossa vai ser bem maior que 20 minutos.
Os números e cenários apontados pelo Masterplan revelam os principais entraves e as soluções propostas para evitar esse cenário. Confira os dados, os projetos em andamento e o que pode mudar (ou piorar) no trânsito de Ponta Grossa.
O retrato atual
De acordo com o Masterplan, atualmente, 70% dos deslocamentos na cidade dependem de veículos particulares, reflexo de uma frota que cresce aceleradamente, seguindo a tendência nacional de alta motorização. Esse cenário gera impactos diretos no trânsito: os congestionamentos custam aproximadamente R$ 50 milhões por ano em perda de produtividade e gastos com combustível.
Ricardo Schechtel, integrante da Câmara Técnica de Transporte e Mobilidade Urbana do CDEPG, explica: “O transporte coletivo tem uma desvantagem natural em relação ao individual. Ele precisa atender várias pessoas com um itinerário fixo, que nem sempre é o mais direto, enquanto o carro segue o caminho mais rápido. Além disso, há uma comparação injusta de custos – as pessoas consideram apenas o combustível no carro, enquanto a tarifa do ônibus inclui toda a estrutura: frota, salários e manutenção.”
Enquanto isso, o transporte público enfrenta uma crise de confiança – a frota atrai menos de 30% da população para o uso regular, problema agravado por relatos dos usuários de superlotação, atrasos e falta de integração entre linhas.
“Estamos num ciclo vicioso”, alerta Schechtel. “Quanto mais carros nas ruas, mais os ônibus ficam presos no trânsito, atrasando os horários. Para compensar, são necessários mais veículos, o que encarece a tarifa e afasta ainda mais os passageiros.”
Para pedestres e ciclistas, a situação também é preocupante: em uma malha viária de 1.200 km, apenas 15 km são ciclovias, e 30% dos acidentes registrados envolvem pessoas que se deslocam a pé ou de bicicleta. Além disso, 40% das calçadas apresentam condições inadequadas, dificultando a acessibilidade e a segurança de quem opta por meios não motorizados.
O futuro possível
Diante dos desafios atuais, o Masterplan traça um caminho de transformação com propostas concretas. Para revolucionar o transporte público, a sugestão é implantar corredores exclusivos para ônibus, começando pela movimentada Balduíno Taques, além de estudar a implementação de um sistema BRT ou integrado, seguindo modelos bem-sucedidos como os de Curitiba e Joinville.
“As prefeituras podem quebrar esse ciclo de duas formas”, explica Schechtel. “Primeiro, dando prioridade ao transporte coletivo com faixas exclusivas, onde os ônibus não competem com os carros. Segundo, subsidiando a tarifa para torná-la mais acessível. Mas precisamos também melhorar a segurança nos pontos de ônibus e fazer um marketing positivo do transporte público, que hoje é visto como um mal necessário.”
A modernização também passará pela renovação da frota com veículos menos poluentes e a adoção de bilhetagem eletrônica, trazendo mais eficiência ao sistema.
Quem opta por modais ativos ganhará atenção especial: o plano prevê a ampliação da malha cicloviária em 20 km até 2026 e a requalificação de calçadas em 30 vias prioritárias, medidas que visam dar mais segurança e conforto a pedestres e ciclistas.
A tecnologia será uma aliada fundamental, com a instalação de semáforos inteligentes para melhorar o fluxo do trânsito e o desenvolvimento de aplicativos com informações em tempo real sobre ônibus e rotas, permitindo que os usuários planejem melhor seus deslocamentos.
“A sincronização dos semáforos é crucial”, destaca Schechtel. “Pontos com sinalização dessincronizada geram atrasos desnecessários. A prefeitura precisa usar softwares para simular e corrigir esses problemas, que só tendem a aumentar com o crescimento da cidade.”
No longo prazo, a estratégia busca tornar Ponta Grossa uma cidade mais compacta e menos dependente do carro, através do adensamento urbano em áreas estratégicas e da criação de polos de emprego próximos a bairros residenciais.
“O relevo de Ponta Grossa dificulta a criação de vias rápidas, mas precisamos buscar alternativas inteligentes”, complementa Schechtel. “Ligações estratégicas podem evitar os pontos críticos de congestionamento, mesmo com os desafios topográficos.”
E se nada for feito?
O Masterplan 2043 traça um alerta contundente: caso as medidas propostas não saiam do papel, Ponta Grossa poderá enfrentar um cenário crítico de mobilidade nas próximas décadas. Os congestionamentos se tornarão crônicos, com tempos de deslocamento cada vez mais extensos, enquanto o transporte público caminharia para um colapso, perdendo ainda mais passageiros para os veículos particulares.
Para evitar esse futuro indesejado, três pilares fundamentais precisam ser consolidados:
- Investimentos contínuos do poder público e iniciativa privada
- Fiscalização rigorosa e cumprimento das metas
- Envolvimento ativo da população nas discussões sobre mobilidade
Como bem resume o diagnóstico do Masterplan: “Ou a cidade age agora, ou daqui a 20 anos o trânsito vai parar” – um alerta que ecoa a urgência de se repensar a mobilidade urbana em Ponta Grossa enquanto ainda há tempo para mudar o curso dessa realidade.
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