Recentemente, completei 59 anos e, entre muitas felicitações, ouvi comentários bem intencionados, mas incômodos: “Fique tranquilo, você não aparenta a idade que tem”. A frase me fez refletir: por que eu deveria me tranquilizar por isso? Ou ainda, o que há de errado em aparentar a idade? Outra expressão comum foi: “O importante é ter um espírito jovem”, como se um “espírito jovem” fosse necessariamente mais vantajoso. Isso levanta outra questão: o espírito tem idade?
Essas falas revelam uma forma sutil de etarismo, uma discriminação baseada na idade que está profundamente enraizada em nossa sociedade. Assim como expressões racistas, homofóbicas, transfóbicas e misóginas, que até pouco tempo eram aceitas de forma natural, o preconceito contra a idade continua a ser amplamente ignorado e até reforçado por piadas ou comentários que parecem inofensivos à primeira vista.
Expressões como “não seja velho” carregam o mesmo peso pejorativo de “não seja mulher”, “não seja preto”, “não seja LGBT” ou “não seja gordo”. Todas essas frases têm um subtexto claro: “não seja diferente do meu ideal de normalidade”. E é aí que mora o problema. Até quando vamos aceitar que “velho” e “velha” sejam usados como insultos ou piadas?
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O etarismo, ou “velhofobia”, está tão presente nas conversas diárias que muitos sequer percebem. No entanto, é hora de romper com esse preconceito estrutural, assim como estamos fazendo com outras formas de discriminação. Envelhecer faz parte da vida, e normalizar essa realidade, sem imposições de padrões de juventude eterna, é um passo fundamental para uma sociedade mais justa e inclusiva.
O espírito, afinal, não tem idade.
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