O alívio de encontrar sombra em um dia de calor extremo. A frustração ao ver o rio do bairro transformado em esgoto a céu aberto. A dúvida sobre onde descartar aquele eletrodoméstico quebrado. Estas cenas cotidianas revelam um desafio maior: como garantir que os netos e bisnetos dos ponta-grossenses ainda possam abrir a torneira e encontrar água limpa, ou caminhar por ruas arborizadas?
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A série “Masterplan Ponta Grossa 2043” se debruça sobre o meio ambiente e o que a cidade reserva para as próximas gerações. O diagnóstico elaborado pelo Masterplan aponta que Ponta Grossa, ainda que tenha boas iniciativas em relação à sustentabilidade, tem um longo caminho para conciliar seu crescimento e se consolidar como uma cidade ambientalmente viável.
A cidade que se expande, mas não se planeja
Segundo Caroline Schoenberger, coordenadora da Câmara de Meio Ambiente do Masterplan, a palavra-chave para conciliar crescimento e sustentabilidade é planejamento. Ponta Grossa cresce, mas não necessariamente evolui. A expansão horizontal preocupante, citada por Caroline, se reflete em números concretos: enquanto a cidade possui apenas 12% de cobertura arbórea (o ideal seria 25-30%), bairros novos surgem sem a infraestrutura verde necessária. O resultado são “ilhas de calor” urbanas, onde a temperatura pode ser até 5°C mais alta que em áreas arborizadas.
Caroline alerta: “Não basta plantar árvores, é preciso planejar onde e como”. O Plano Municipal de Arborização em desenvolvimento pretende justamente isso – definir se cada rua precisa de sombra, se determinada área requer uma praça ou se certos bairros precisam priorizar parques. Enquanto isso, o Masterplan 2043 já traça metas ambiciosas: 50 mil novas árvores até 2030, com prioridade para espécies nativas como araucárias e ipês, que hoje representam apenas 30% do total.
Rios que viram esgoto – e podem virar parques
Quando Caroline Schoenberger fala sobre a necessidade de “valorizar os rios da cidade”, ela toca em um ponto sensível. O Rio Tibagi recebe diariamente esgoto não tratado de 40% da população. O resultado? 70% dos pontos monitorados têm qualidade da água classificada como ruim ou péssima.
Mas há esperança. O projeto “Tibagi 2030”, aliado às estações compactas de tratamento previstas no Masterplan, mostra que é possível reverter esse quadro. Como lembra Caroline: “As pessoas precisam entender que aquele curso d’água é fonte de vida, não depósito de lixo”. Ações como a revegetação de margens com 20 mil mudas anuais e a criação de parques lineares podem transformar áreas degradadas em espaços de lazer e convívio.
O lixo que some – mas não desaparece
A maior transformação recente no cenário ambiental de Ponta Grossa foi o fechamento do antigo Aterro Municipal de Botuquara em 2019, após mais de 50 anos de operação. Em seu lugar, entrou em operação o moderno Centro de Tratamento de Resíduos (CTR) Vila Velha, em Teixeira Soares, com tecnologia de impermeabilização de solo, tratamento de chorume e monitoramento remoto. A revolução continuou em 2021 com a Usina Termoelétrica a Biogás (UTB), que transforma resíduos orgânicos em energia elétrica para prédios públicos – um exemplo concreto de economia circular.
Vitor Borsato, Diretor de Negócios do Grupo Philus, destaca: “Ponta Grossa provou que desenvolvimento econômico e respeito ao meio ambiente podem caminhar juntos”. A cidade inovou ainda com o primeiro caminhão de coleta 100% elétrico da região Sul, que roda até 200 km com a energia dos próprios resíduos que transporta.
Apesar desses avanços tecnológicos, os desafios persistem. O Masterplan aponta que 450 toneladas de lixo são geradas diariamente, com apenas 5% de reciclagem – muito abaixo da meta nacional de 20%. Caroline Schoenberger é enfática: “Nenhuma tecnologia funciona com resíduos misturados”. A Ponta Grossa Ambiental complementa com dados alarmantes: em 2024, seus coletores sofreram 25 mordidas de cães e 13 perfurações por agulhas – acidentes que poderiam ser evitados com simples mudanças de hábito, como embalar vidros quebrados em caixas sinalizadas e manter animais presos durante a coleta.

Sombra, água fresca e energia limpa
Enquanto busca recompor suas árvores, Ponta Grossa começa a explorar melhor suas oportunidades energéticas. O biogás do aterro, que poderia abastecer 1.500 residências, começa a ser aproveitado. As escolas municipais dão o exemplo: cinco unidades piloto com painéis solares já economizam R$ 15 mil/ano.
Caroline destaca que “meio ambiente não é só plantar árvore” – é um sistema complexo onde arborização, gestão de resíduos e recursos hídricos se conectam. O programa “IPTU Verde”, que dá descontos para propriedades com boa cobertura arbórea, mostra como políticas públicas podem incentivar essa visão integrada.
O futuro se planta hoje
Recompor o verde urbano exige mais que mudas – exige mudança. Como propõe Caroline, é preciso “participação de todos: população, empresários e indústrias”. O Viveiro Municipal, que saltará de 8 mil para 20 mil mudas anuais, só terá impacto se as plantas sobreviverem – daí a importância de técnicas como hidrogel e adoção comunitária.
A PGA investe pesado em educação, com oficinas em escolas e campanhas nas redes sociais, enquanto o Masterplan cita o programa “Minha Árvore” para estudantes. Juntos, governo, empresas e cidadãos começam a escrever uma nova história para Ponta Grossa.
O que você pode fazer hoje?
A frase final de Caroline ecoa como alerta e convite: garantir que as próximas gerações tenham água limpa e sombra depende das escolhas feitas hoje. Cada morador pode contribuir participando de mutirões de plantio, separando rigorosamente o lixo reciclável, denunciando descarte irregular em rios e cobrando políticas verdes de seus representantes.
Como mostra o Masterplan 2043 e as iniciativas da PGA, a tecnologia e os recursos existem. Falta agora cada cidadão fazer sua parte – porque o amanhã sustentável que queremos começa nas pequenas ações de hoje, no nosso bairro, no nosso cotidiano. Ponta Grossa está mostrando que é possível conciliar desenvolvimento e meio ambiente, mas essa jornada depende de todos nós.

Masterplan 2043: BnT amplia debate com podcast e análises sobre o futuro da cidade
A cobertura especial sobre o Masterplan 2043 e o futuro de Ponta Grossa vai além de textos informativos, oferecendo uma análise detalhada das propostas que estão moldando os rumos da cidade. Semanalmente, às quartas-feiras, o portal BnT publica um podcast dedicado a debater e interpretar as informações e dados apresentados na série.
No podcast “Ponta Grossa Masterplan 2043”, especialistas são convidados a discutir os temas explorados nas reportagens, contribuindo com reflexões e insights sobre o futuro da cidade com base nas pesquisas e diretrizes do Masterplan.
Trata-se de um projeto multiplataforma desenvolvido pelo BnT, que utiliza diversos formatos para envolver o público em uma reflexão abrangente sobre o amanhã de Ponta Grossa.
Além das reportagens escritas, a série inclui infográficos, uma newsletter exclusiva, um podcast semanal e ampla divulgação nas redes sociais e demais plataformas do BnT.
A cada semana, um novo tema do Masterplan é destacado, com publicações que reúnem dados oficiais do CDEPG, opiniões de especialistas, entrevistas e análises aprofundadas.