Nem sei quando comecei a olhar para eles que também olham para mim. Meu coração bate acelerado quando vê um varal. Sim, um varal destes de fios e grampos a fixar peças de roupas a impedir que elas se dispersem pelo mundo. Grampos não prendem apenas roupas, amarram naquele tempo-espaço vidas que são lavadas e secas ao sol.
As peças, às vezes, pedem por alforria, mas não ganham. Somos apegados demais para liberta-las. As peças se apegam umas às outras e não se pode separa-las como não se pode separar irmãos órfãos. Os meus preferidos são aqueles numa cerca de madeira, quanto mais desgastadas as tábuas, melhor.
Quanto mais desbotadas as roupas, melhor. Não olho para as peças íntimas, mas sempre reparo se há meias. Estamos pendurados no tempo que seca nossa pele-roupa eternamente ao sol. Batem nossos corações pendurados por grampos de madeira, para sempre.
Autoria: Renata Regis Florisbelo
LEIA TAMBÉM: Adolescente de 13 anos mata a avó e fere o avô após discussão no Paraná
Comentar