Em um movimento cada vez mais enfático, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem reforçado o discurso pela taxação dos mais ricos como forma de garantir justiça fiscal no país. Durante discursos recentes, Lula tem elevado o tom ao defender que “quem ganha mais, precisa contribuir mais com a sociedade brasileira”, deixando claro que considera a atual estrutura tributária injusta e regressiva.
A fala do presidente ocorre num momento em que o governo pressiona o Congresso Nacional para avançar com a regulamentação da reforma tributária. A proposta do Executivo inclui a taxação de grandes fortunas, fundos exclusivos e lucros e dividendos – itens que, historicamente, enfrentam forte resistência de setores do empresariado e de bancadas econômicas no Legislativo.
“Não é possível que, em pleno século XXI, quem vive de salário pague proporcionalmente mais imposto do que quem vive de lucro financeiro. Isso não é justiça, é privilégio”, afirmou Lula em um recente evento em Brasília. O presidente também destacou que a taxação de grandes fortunas já é adotada em várias democracias desenvolvidas e que o Brasil precisa deixar de ser “um paraíso para milionários e um inferno para os trabalhadores”.
Enfrentamento político
As falas de Lula não são apenas retórica. Elas fazem parte de uma estratégia do governo para mobilizar apoio popular e pressionar parlamentares a aprovarem pontos sensíveis da reforma. O Planalto vê na taxação dos super-ricos uma bandeira com apelo social, especialmente em um cenário de desigualdade e de pressão por mais investimentos públicos em saúde, educação e infraestrutura.
No entanto, os obstáculos são consideráveis. Parlamentares da chamada bancada do PIB, composta por representantes do setor financeiro e empresarial, têm se posicionado contra propostas que alterem a tributação sobre patrimônios e investimentos de alta renda. Já a oposição ao governo, liderada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, tem acusado Lula de promover “caça aos ricos” e de querer punir o sucesso econômico.
Narrativa internacional
O discurso de Lula também se alinha com movimentos internacionais. Em fóruns como o G20, o presidente brasileiro tem defendido a necessidade de uma governança global para enfrentar a concentração de renda e propôs uma “tributação internacional progressiva” sobre grandes fortunas. O tema ganhou eco após o bilionário francês Gabriel Zucman divulgar um relatório pedindo uma alíquota mínima global sobre os super-ricos.
“Não se trata de ideologia, mas de equilíbrio. O Brasil e o mundo não podem continuar reféns de um sistema onde poucos concentram muito e a maioria vive com pouco”, enfatizou Lula.
Aposta política
Internamente, o governo aposta que o debate sobre justiça fiscal pode fortalecer sua posição junto à classe média e aos trabalhadores, principalmente diante de um Congresso fragmentado e de baixa popularidade. A equipe econômica também vê na medida uma oportunidade de ampliar a arrecadação sem sacrificar o consumo das famílias.
A narrativa é clara: não se trata apenas de arrecadar mais, mas de tornar o sistema tributário mais justo. Resta saber se o discurso de Lula encontrará eco suficiente no Parlamento para sair do campo das intenções e se converter em legislação.
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