Uma rápida análise aos maiores problemas sociais de Ponta Grossa deve indicar que, diferente de muitas cidades médias do País ou mesmo do Estado, no maior município dos Campos Gerais praticamente não existe oposição política. E isso decorre de algumas escolhas e decisões dos grupos que controlam as direções partidárias, seja da cor ou tonalidade que for. Inegável é que, aqui, para quem se diz informado a partir do que circula em boa parte da mídia local (dois canais abertos televisivos, 9 ou 10 emissoras radiofônicas, diários impressos, portais e blogs noticiosos), com raras exceções, praticamente não existe oposição, ao menos quando se trata de buscar soluções aos problemas que afetam a vida da maioria da população.
Alguns exemplos ajudam a entender que o cenário não se trata de polêmica ou da divulgação de alguns políticos, mas de outras formas de combinação que não necessariamente se podem nomear por ‘debate’, ‘disputa de projetos viáveis’ ou ‘políticas públicas’. Contrato o transporte coletivo, gestão da água/saneamento básico e o aumento salarial aos cargos políticos são os três problemas que ilustram presente a reflexão.
Um primeiro caso é o transporte coletivo em PG que, depois de uma aprovação praticamente unânime em março de 2023 de uma lei que prometia ‘salvar a lavoura’, segue alguns vícios registrados há mais de 25 anos, como estudos, documentos e até relatos de comissões parlamentares revelam ao longo do mesmo período. E o que acontece? Nada. Ou melhor, o mesmo que ocorre há décadas: contrato renovado por outros 12 meses, enquanto a administração municipal repassa dinheiro do caixa público ao controle empresarial privado sob justificativa de manter a ‘tarifa congelada’. E não estaria bom? Depende para quem vive e como enfrenta o problema de locomoção diariamente na Cidade. Mas, claro, tem muito ‘político profissional’ que se mostra satisfeito e, por vezes, tenta silenciar os poucos que expõem desmandos em andamento. E a oposição onde estaria? Silêncio estranho, não?
E qual outro (segundo) problema, em que o consenso parece nublar o horizonte de uma necessária oposição política em PG? Os percentuais de aumento que a prefeita/vice/secretários e vereadores aprovaram nos próprios salários às vésperas do Natal passado (2024) – embora sob ação popular na justiça, por iniciativas de poucos moradores – é outro tema que ‘unificou’, ainda que com alguma abstenção ou até promessa de devolução, a maioria dos agentes políticos e direções partidárias locais.
Na prática, não há divergência e sequer debate em torno dos impactos e da própria legitimidade com que aprovaram os valores, que também beneficiaram os cargos comissionados, diga-se de passagem, nomeados pelos mesmos grupos políticos hegemônicos em PG. “Ah, se o projeto é bom, não precisa questionar”, já ouvi em mensagens recebidas nos meses recentes. Honestamente? Não se trata, apenas, do valor pago ao trabalho realizado, mas da forma como fazem, sem ouvir quem paga a conta: o contribuinte, sua excelência! “E você não ganha mais que muitos comissionados?”, já devolveram também, na mesma estratégia de pressionar pelo silêncio que agrada o andar de cima das comissões no bairro da Ronda. Como se servidor público concursado tivesse que beijar a mão da velha oligarquia política regional! Não, senhores, questionar é um direito constitucional na República!
E porque é preciso questionar algumas decisões da administração pública local? Ao menos por respeito à democracia e sem esquecer que os aqueles que pedem voto a cada dois anos para se eleger devem respeitar quem não está satisfeito com o andamento silencioso dos problemas registrados em PG. “Mas não rolou até uma CPI para resolver problema da água?” Sim. E daí o que e quanto mudou, na prática?
O contrato da água e do saneamento básico em PG é o terceiro problema que se enrola em falsos consensos ou acordos com interesses pouco explicados à maioria da população. É preciso lembrar que o poder legislativo local aprovou – ou silenciou? – quando da prorrogação antecipada do contrato da Prefeitura Municipal com a concessionária que deveria também coletar/tratar o esgoto local, de forma rápida e, estranhamente, sem qualquer questionamento e cobrança pública por parte de quem deveria fiscalizar e exigir cumprimento contratual vigente. Nada disso, ao menos em 2023, quando a aprovação ganhou um caráter festivo e comemorada por maioria de aliados ou silenciados. Naquele momento, sumiu a oposição política na Cidade?
Em outros termos, o mesmo poder que deveria cobrar providências, fiscalização e respeito ao contrato vigente, quando a falta de água afeta toda a população de PG, tenta se antecipar e, olha lá, cria uma comissão parlamentar. Importante, sim. Mas, porque não se fez nada quando o contrato que tinha validade até 2028 foi renovado antes do prazo e até 2048? Simples, pois não houve oposição política na gestão dos problemas sociais. E silenciar, como se sabe, é uma forma de concordar com as ações dominantes, mesmo que seja do prédio ao lado do ‘todo poderoso’ poder executivo da Municipalidade.
Nos casos aqui citados – transporte coletivo, aumento que prefeita/vereadores aprovaram aos próprios salários e falta de água ao povo – qual direção entre as duas dezenas de partidos políticos existentes em PG tomaram alguma providência? Nenhum partido! Sem iniciativa, por óbvio, não há como relativizar e desconversar que ‘política’ se faz com diálogo, se tais atores sequer demonstram sintonia com a insatisfação popular diante dos problemas registrados? Alegar que isso ‘não é política’ ou fake news é uma estratégia vergonhosa de desinformação para enganar, novamente, a maioria que precisa de investimento e fiscalização com eficiência e responsabilidade na manutenção e oferta de serviços essenciais em PG. E tampouco adianta alegar que o problema é federal ou até estadual.
É claro que existem limites nas diversas esferas da representação, mas a ausência de uma efetiva oposição política na Cidade apenas piora ou agrava os impactos e aumenta o descrédito da população com os próprios eleitos, seja vereador ou prefeito/a, que em geral dizem uma coisa ao pedir voto e fazem outra quando eleitos e negociam aos seus modos (viciados ou não).
E onde foram parar ou o que fazem (como vivem e o que dizem) os cabos eleitorais e até eleitos/as pelos grupos que disputaram a eleição em outubro de 2024 como se fossem oposição aos mandatários de plantão no Palácio da Ronda? Na ocasião, havia incontáveis candidatos/as – à vereança e pela prefeitura – alguns até falando que, se eleitos, fariam diferente, ao menos nos problemas enfrentados pela população, lembras?
O detalhe é que, passada a eleição, e antes mesmo de iniciar o novo ano (2025) eles facilmente se alinharam, por alguma mágica, acordo ou combinação outra e já não demonstravam a mesma força discursiva de que defenderiam tudo o que foi enunciado aos eleitores que os (re)conduziram aos cargos por mais quatro anos. Inclusive, em nível estadual, algumas aproximações foram reatadas sob aval dos ocupantes do Palácio Iguaçu, para o ‘bem geral da comunidade’, em ‘defesa da cidade’ ou por ‘alguma obra maior’, que os próprios eleitores desconhecem, dentre outras justificativas.
Pelas estimativas do Sindicato dos Servidores Municipais de PG, manter mais de 300 cargos comissionados, enquanto diversos setores da gestão pública precisam de concurso e fiscalização – como transporte, água e saneamento, por exemplo – não parece ser fácil administrar a recolocação estimada aos próximos dois ou quatro anos na gestão municipal. E, por óbvio, sem uma oposição política disposta e capaz de fiscalizar e cobrar transparência na manutenção e oferta de serviços essenciais as coisas tendem a ficar um pouco piores à maioria de moradores e moradoras de PG.
O legislativo municipal, por exemplo, já foi palco de importantes debates, em busca de soluções aos problemas locais, ao longo das três décadas recentes e quem dava o tom do diálogo – por vezes, duro, com questionamentos e discordâncias – não eram detalhes ou tretas pontuais, mas a lógica de um debate público, com posturas diferenciadas, que aí sim justificam-se por grupos capazes de se organizar e não apenas atender aos pedidos por favores, eventuais permutas ou até acordos para supostamente aliviar tensões localizadas. Política sem debate e projetos consistentes, capazes de apontar soluções viáveis aos problemas da Cidade, pode ter outros nomes, mas fica longe da política moderna no mundo.
O que salta aos olhos e preocupa não parece ser apenas um cenário em que ‘políticos’ de carreira nadam de braçada, mas talvez um pouco pior, em que agentes e comissionados ‘negociam de baciadas’, para usar uma expressão regional. E quando será que pode voltar uma oposição, a partir de partidos políticos na Cidade? Ao que tudo indica, possivelmente às vésperas de uma próxima disputa eleitoral, quando virtuais candidatos e candidatas precisam, novamente, do voto da população, em especial da maioria de pobres e, aí sim, retomam promessas, que se repetem como um calendário com datas festivas e feriados a cada dois anos na província.
Pense com a gente, por gentileza, avalie e ajude a pensar alternativas, pois é fato que, com exceção de algumas tretas localizadas ou pontuais, não existe oposição política concreta e atuante em PG no primeiro semestre de 2025. Se, acaso, existe, ao menos não se manifestou para questionar e cobrar providências aos três problemas apontados no presente texto. Ignorar o silêncio que reproduz alguns desmandos e vícios da política local não parece o melhor caminho para discutir os problemas reais vivenciados pela maioria de moradores/as da Cidade. Com respeito, uma democracia se constrói com diálogo e participação coletiva. E este é o desafio da reflexão aqui apresentada.