Pacotes, por Renata Regis Florisbelo

Pacotes acompanhavam sua vida. Dias se passavam com ele ao final do corredor a embalar as compras alheias. Ele procurava ficar alheio às conversas, aos clientes, aos colegas nos caixas do mercado, às vezes tão falantes. Não fazia bem para ele observar as compras alheias e, se ele olhasse demais, elas passariam a ser dele, carregando-as na mente, irremediavelmente. Sensação de um pertencimento que não lhe pertencia.
O mais intrigante eram os produtos de limpeza que ele não fazia a menor ideia de para que serviam. Bastaria sabão em pó e em barra para limpar. Para que tudo aquilo estava sendo comprado? Noutras vezes era tão pouco o que havia para ser empacotado que ele preferia não olhar nos olhos decepcionados de quem tão pouco levava. Notas curtinhas de um dinheiro ralo deixadas no caixa, quase nada a ser embalado. Melhor não pensar, enfiar tudo nas famigeradas sacolas antes que sua vida nelas seja transportada.