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A Influência do PCC no Garimpo Ilegal na Terra Yanomami
A Presença do PCC na Região
Um estudo recente revela que o Primeiro Comando da Capital (PCC), uma das principais facções criminosas do Brasil, tem atuado no garimpo ilegal na Terra Yanomami por quase uma década. Desde 2015, essa organização se infiltrou em áreas de mineração ilegal, intensificando a violência e o narcogarimpo na região, conforme apontado pelo estudo “Cartografias da violência na Amazônia”, realizado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).
Metodologia da Pesquisa
Os pesquisadores do FBSP conduziram entrevistas com narcogarimpeiros — membros de organizações criminosas envolvidas no garimpo ilegal. Através dessas entrevistas, foi possível entender como o PCC se estabeleceu no território Yanomami e quais são suas operações.
A Realidade do Garimpo na Terra Yanomami
A Terra Yanomami é a maior área indígena do Brasil, localizada entre os estados de Roraima e Amazonas. Este território, de difícil acesso, enfrenta um aumento significativo da atividade de garimpo ilegal nos últimos seis anos, resultando em episódios de violência armada e mortes violentas, tornando a situação alarmante.
O crescimento da atuação do PCC na região está ligado à exploração de drogas, ouro e cassiterita. A pesquisa revelou que, embora o Comando Vermelho e outras milícias estejam presentes, o PCC é a facção com maior expansão na área.
O Contexto da Violência
O pesquisador Rodrigo Chagas, professor da Universidade Federal de Roraima (UFRR) e pesquisador sênior do FBSP, explicou que a investigação teve início após a morte de Sandro Moraes de Carvalho, um importante membro do PCC na região. Sandro, foragido da Justiça do Amapá por roubo qualificado, foi morto em um confronto com a Polícia Rodoviária Federal e o Ibama em maio de 2023.
Testemunhos de Narcogarimpeiros
Um jovem entrevistado, que começou a atuar no garimpo aos 13 anos, relatou como acompanhou a ascensão de Sandro no narcogarimpo, descrevendo-o como o “Presidente” da facção, conhecido por publicar vídeos mostrando seu arsenal e rotinas de treinamento.
Durante as entrevistas, os narcogarimpeiros forneceram informações sobre a organização e a logística do PCC no garimpo, incluindo a coação dos trabalhadores sob ameaça armada e confrontos violentos com facções rivais, descritos como “cenas de guerra”.
O Crescimento das Facções em Roraima
Desde 2013, a presença de facções criminosas como o PCC e o Comando Vermelho foi registrada em Roraima, com um aumento significativo a partir de 2015, resultando em um alarmante aumento de 218% nos homicídios na capital, Boa Vista. A luta pelo controle territorial se estendeu à Terra Yanomami, onde o principal objetivo é a exploração de áreas de garimpo e a ampliação do poder financeiro.
Dinâmica de Controle e Conflito
Os pesquisadores identificaram que o PCC controla a área ao longo do rio Uraricoera, a principal rota de acesso à Terra Yanomami, enquanto o Comando Vermelho domina a área do rio Mucajaí. Apesar da presença de ambas as facções, o PCC mantém o controle sobre a maior parte das áreas de garimpo.
Quando um membro de uma facção rival é capturado pelo PCC, ele é submetido a violência extrema, demonstrando a brutalidade e a força que o PCC exerce sobre o território e seus habitantes.
Cooptação e Vulnerabilidade
Os pesquisadores notaram que o PCC frequentemente se aproveita da vulnerabilidade de alguns garimpeiros para aumentar seu número de membros na região. Existe também um terceiro grupo denominado “corre-junto”, que inclui pessoas que não são oficialmente parte da facção, mas que realizam tarefas para ela, como os barqueiros, que atuam como informantes.
Desafios e Mudanças no Garimpo
Apesar da presença do PCC e de outras facções, ainda não foi possível determinar com precisão o número total de integrantes da organização na Terra Yanomami, dificultando a obtenção de dados consolidados.
Garimpeiros mais experientes relatam que, atualmente, é quase impossível extrair ouro na terra indígena devido às operações de fiscalização. Como resultado, muitos estão migrando para a Guiana e Suriname, enquanto outros aguardam uma possível mudança de governo que lhes permita retornar ao garimpo. Apesar desse cenário, a resistência armada persiste na região, e muitos garimpeiros mudaram suas operações para a noite, quando a fiscalização é menos intensa.
A Presença de Facções em Roraima
O estudo do FBSP revelou que quase todos os municípios de Roraima têm a presença de facções criminosas, exceto Uiramutã, a cidade mais indígena do país. As três facções identificadas no estado são: PCC, Comando Vermelho e Tren de Araguá, uma facção venezuelana que atua em Boa Vista e no município de Pacaraima, na fronteira com a Venezuela. O PCC se destaca como a facção mais predominante, controlando municípios como Amajari, Cantá, Caroebe, Normandia, São João da Baliza e São Luiz. A disputa pelo domínio se estende a outras cidades, como Alto Alegre e Mucajaí, que também abrigam partes da Terra Indígena Yanomami.