Em março de 2025, o Índice de Preços de Medicamentos para Hospitais (IPM-H) apresentou uma alta de 0,36%, desacelerando em comparação com o aumento de 1,13% registrado no mês anterior. Ao final do primeiro trimestre do ano, a variação acumulada ficou em 1,15%. Essa tendência reflete uma dinâmica complexa no setor farmacêutico brasileiro, especialmente após a implementação do reajuste anual de medicamentos, que entrou em vigor em 1º de abril.
Dados da plataforma Clique Farma Afya revelam que, na primeira semana após o novo reajuste, os preços de alguns medicamentos experimentaram variações superiores a 200%. Segundo Lélio Souza, vice-presidente de Soluções para Prática Médica da Afya, o aumento médio autorizado pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED) foi de 3,83%, aplicável ao Preço Máximo ao Consumidor (PMC). Entretanto, esse valor não determina os preços finais nas farmácias, que têm liberdade para aplicar suas próprias políticas comerciais.
Um exemplo extremo citado por Souza foi o da Rivaroxabana, um anticoagulante que chegou a ter seu preço alterado em até 359% entre diferentes estabelecimentos. Em relação ao Letrozol, utilizado no tratamento do câncer, foram observadas oscilações superiores a 200% logo após o reajuste: seu preço inicial era de R$ 31,90 e subiu para R$ 100,99 em um espaço de apenas um dia.
A análise realizada pela Clique Farma Afya considera as variações nos preços mínimos dos produtos nas principais redes farmacêuticas do Brasil antes e após os reajustes. Lélio Souza alertou que esses aumentos podem comprometer a continuidade dos tratamentos médicos, principalmente entre populações de baixa renda. O impacto econômico sobre os pacientes pode levar à interrupção de terapias essenciais e, consequentemente, aumentar a demanda por atendimentos médicos devido à piora das condições de saúde.
No contexto das farmácias, uma tendência identificada é a busca dos consumidores por alternativas mais acessíveis, como medicamentos genéricos e similares. Essa mudança nas preferências pode influenciar as vendas dos medicamentos de marca e requerer ajustes nas estratégias de precificação e promoção.
Quanto ao desempenho do IPM-H, além da alta mensal registrada em março, dados comparativos mostram que a prévia da inflação ao consumidor (IPCA-15) indicou uma variação de 0,64% no mesmo período. O IGP-M/FGV apresentou deflação de 0,33%, enquanto informações do Banco Central destacaram uma valorização da moeda brasileira em relação ao dólar na ordem de 0,33%.
Bruno Oliva, economista e pesquisador da Fipe, observou que os resultados obtidos estão alinhados com as expectativas do mercado. A alta mensal do IPM-H foi similar à observada em março de 2024 e ligeiramente inferior à média histórica para esse mês entre 2015 e 2024. A atenção agora se volta para os próximos meses e para o comportamento esperado dos preços dos medicamentos diante dos novos reajustes anuais da CMED.
Os grupos terapêuticos que compõem o IPM-H apresentaram variações mistas em março. Os preços aumentaram principalmente no grupo do aparelho digestivo e metabolismo (2,43%), seguidos por preparados hormonais (0,92%) e agentes antineoplásicos (0,73%). Por outro lado, houve retrações significativas no sistema musculoesquelético (-2,41%) e aparelho geniturinário (-3,43%).
No acumulado do primeiro trimestre deste ano (1,15%), os aumentos se concentraram nos grupos: aparelho digestivo e metabolismo (5,04%) e imunoterápicos (4,97%). Enquanto isso, grupos como sistema musculoesquelético e aparelho cardiovascular observaram quedas expressivas.
Por fim, ao longo dos últimos 12 meses até março de 2025, o IPM-H cresceu 4,24%, impulsionado por aumentos significativos nos grupos relacionados ao aparelho digestivo (18,98%) e imunoterápicos (12,77%). Em contraste, alguns grupos enfrentaram quedas nos preços durante o mesmo período.
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