A Assembleia Legislativa do Paraná debateu em audiência pública realizada nesta sexta-feira (26) o cenário do transplante de medula óssea e a viabilidade da criação de um banco de sangue de cordão umbilical e placentário em todo o estado. O evento foi proposto pelo deputado Homero Marchese (PROS) e contou com a participação de médicos e especialistas em saúde pública que atuam no segmento de transplantes.
De acordo com os profissionais que participaram da audiência, o sangue de cordão umbilical e placentário é rico em células-tronco hematopoéticas e, por isso, é uma fonte alternativa de células no tratamento de doenças hematológicas – como cânceres e outras disfunções das células sanguíneas. Para a utilização dessas células, a coleta é feita durante o nascimento do bebê sendo na sequência processado e armazenado pelos Bancos de Sangue de Cordão Umbilical e Placentário.
[RELACIONADAS]No entanto, os especialistas afirmaram que atualmente existem novas metodologias e tecnologias que deixam o procedimento de transplante de medula óssea mais eficaz, rápido e barato em relação à utilização do material retirado a partir do sangue do cordão umbilical e placentário.
“Organizamos a audiência com intuito de nos mobilizarmos para a criação de um banco estadual de sangue do cordão umbilical. Mas ouvindo a comunidade médica e científica verificamos que hoje não é necessário criarmos um banco de dados genéticos nesse sentido, mas sim amplificar as ações feitas em prol do transplante de medula óssea e da captação de novos doadores de órgãos e de sangue, coisas que já são muito bem-feitas no Paraná”, avaliou Marchese.
Novas técnicas
O médico Décio Lerner, chefe o Centro de Transplante de Medula Óssea (CEMO) do INCA – Instituto Nacional do Câncer José de Alencar Gomes da Silva e Coordenador da rede BrasilCord, fez um histórico sobre a criação de bancos de sangue umbilical em todo o país e afirmou que, com o surgimento de técnicas mais eficazes e rápidas de transplante de medula óssea, não faz mais sentido a manutenção de um grande número de bancos com material placentário.
“O que se discute hoje é o que se pode fazer e como criar uma nova utilização dos cordões para combater outras patologias, como tratamento de doenças neurológicas e cardíacas, mas isso tudo está no começo. Ainda é embrionário, mas com boas possibilidades de resultados positivos. A ideia é fazer com que os bancos façam também o transplante de medula óssea e não só manter o sangue de cordão umbilical”, complementou Lerner.
De acordo com Giorgio Baldanzi, médico hematologista do Hospital de Clínicas da UFPR e ex-chefe do Serviço de Hemoterapia do Hospital das Clínicas, a instituição ainda conta com um bioarquivo de material coletado do cordão umbilical. No entanto, nos últimos anos a utilização de sangue placentário diminuiu consideravelmente. “Tivemos uma excelente estrutura no nosso banco, mas com avanço das novas técnicas acabamos interrompendo o trabalho. Mas ainda mantemos nosso bioarquivo, que pretendemos enviar para um centro nacional maior”, revelou.
“O cordão umbilical acabou perdendo espaço na medicina e o investimento é enorme. Hoje se faz coleta para aparentados, mas em larga escala isso se torna mais difícil. A demanda do cordão hoje é baixa porque acabou ficando muito seletivo. Mas num futuro podemos utilizar o sangue do cordão para o tratamento de doenças não hematologicas”, destacou a Lenisa Albanske Raboni, médica hematologista, hemoterapeuta e transplantados de medula óssea, atualmente responsável técnica pelo Centro de Processamento Celular do HC UFPR.
Recursos
Para Vinícius Augusto Filipak, diretor de Gestão em Saúde na Secretaria de Saúde do Paraná, é preciso utilizar de maneira racional os recursos públicos voltados para novos investimentos no setor por parte do Estado. “A tecnologia do cordão está aí, mas há outras tecnologias que suprem essa necessidade e com melhores resultados e menores custos. Isso é comum na medicina. Mas nós temos interesse na implantação e na reutilização de tecnologias. Mas precisamos otimizar os recursos públicos e atender o maior número de pessoas. E aí precisamos o equilíbrio entre o ideal e o possível. Infelizmente a manutenção desses bancos, atualmente, não é possível”, argumentou.
No entanto, o diretor destacou que o sistema de transplante no Brasil, e por consequência no Paraná, é um dos mais organizados e eficazes do mundo. “Temos regramentos claros e muita transparência. Contamos com equipes de abordagem de doadores junto às famílias, que têm feito um grande trabalho. Portanto, em relação ao transplante de medula óssea temos um processo muito seguro, com segurança.
Estrutura
A médica Luana Alves Tannous, responsável técnica da Central de Transplantes do Paraná, explicou que o órgão acompanha todos os protocolos de morte encefálica, realiza as entrevistas familiares e a captação e distribuição dos órgãos, além de inserir os dados de doadores no sistema e seguir todos os passos do processo de transplantes. “O que fazemos é acompanhar os centros transplantadores e recebemos as informações sobre os transplantes, mas a captação não é feita por nós”, afirmou.
“Hoje temos oito centros que realizam o transplante de medula óssea, que são referência em todo o Brasil. Ainda temos 24 unidades de coleta e cadastro de doadores. Esses cadastros ficam ligados ao Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (Redome). Atualmente, no Paraná, são 557.385 doadores cadastrados, o que é um dado muito bom”, completou a enfermeira Juliana Ribeiro Giugni, da Coordenação da Central de Transplantes do Paraná.
“Foi muito positivo debater ideias e propostas com estas pessoas que estão diretamente envolvidas com a área de transplantes em nosso estado. Discussão realmente relevante. Fico muito feliz que no Paraná há pessoas, como estas que participaram dessa audiência, com capacidade de trabalho e dedicação”, concluiu o deputado Homero Marchese.