Coluna

Final de ano, época de saudades da infância (por Roberto Ferensovicz)

Na primeira coluna de 2024, Roberto Ferensovicz relembra com carinho como era a passagem de ano há décadas atrás, na sua infância

Essa época de final de ano me traz um caminhão de lembranças da minha infância, sou um saudosista e tenho orgulho disso.

Das muitas lembranças que tenho dessa época lá no bairro Rio Bonito, em Irati, é de irmos no meio do mato cortar um pinheirinho para enfeitar, e era um pinheiro mesmo, na época (final dos anos 70) nem se imagina que isso se tornaria um crime ambiental, não sei em outras regiões, mas lá era uma cultura local.

Depois de levarmos o pinheirinho pra casa, enchia-se uma lata grande (de margarina Primor) com areia e fixava- se a árvore para que pudéssemos enfeitá-la, os enfeites eram muito parecidos com o de hoje, o que tinha de diferente é que colocavamos pedaços de algodão para simular a neve, nem sei porque essa “pira” com neve se o nosso Natal ocorre no verão.

Outro enfeite que não se usa mais são uns prendedores que fixavam-se nos galhos nos quais eram colocadas pequenas velas coloridas, uma vez tomamos um susto, uma das velas encostou num algodão e quase queimou todo o pinheirinho.

Outra lembrança forte dessa época era da minha mãe fazendo cerveja caseira, também produzida na lata grande de margarina, lembro que era na cor verde e com uma flor vermelha. Quando a gente ia comprar o lúpulo no mercado já pedíamos que resevassem tampinhas de garrafa que seriam utilizadas para tampar as garrafas de cerveja, minha mãe tinha um equipamento próprio só para isso, depois de alguns dias, enquanto a cerveja era curtida na lata eu ia até o mercado para pegar as tampinhas as quais eu selecionava e as lavava para a utilização. Depois de alguns dias vinha o processo de filtragem e engarrafamento da cerveja e aí era só aguardar os dias de festas para que a família e vizinhos pudessem saborear a produção.

Falando em vizinhos, esse é um capítulo especial, nessa época os vizinhos eram como se fossem familiares, dos anos 80, lembro- me bem das famílias Stefanoviz e Cassiano, era uma amizade muito forte, uma convivência diária, lembro deles tomando chimarrão nos finais de tarde, dos momentos de aperto onde se emprestava quase tudo um do outro, açúcar, café, arroz e até dinheiro (pouco né? kkkk).

Voltando para o final dos anos 70 lembro ainda das novenas de Natal, cada dia (ou semana) era em uma casa diferente e ao final tinha uma confraternização na qual as crianças faziam uma encenação do nascimento de Jesus, era um momento especial. Nessa época a vida era bastante difícil, a maioria das crianças não ganhava brinquedos, se ganhava era um bem simplezinho, em geral eram roupas.

No Ano Novo tínhamos outra tradição, as crianças iam de casa em casa desejar Feliz Ano Novo e as pessoas retribuiam com moedas, raramente cédulas, ou ainda doces, geralmente balas, lembro que meu pai já deixava separado um pote com moedas esperando a criançada da vizinhança ou até mesmo uns “estranhos” irem desejar bom ano novo. Lembro que a gente andava longe, mesmo a noite, pois naquela época não tinha perigo, risco de assalto ou algo parecido, e no dia primeiro a gente acordava cedo porque até o meio dia ainda dava tempo de desejar Feliz Ano Novo e ganhar mais uns trocados.

Enfim, são muitas lembranças que se for relatar daria com certeza um livro (quem sabe né?) mas vou encerrar por aqui constatando que era uma época de muitas dificuldades, onde as ceias eram simples, mas não tenho dúvidas que as confraternizações entre as famílias, vizinhos e amigos eram muito mais intensas, a comemoração do Natal era muito mais focada na religiosidade, na Fé do que no consumo.

Como disse no início, lembranças de uma pessoa saudosista, muitos podem não concordar, é um pensamento e não uma verdade absoluta, mas para mim Natal e Ano Novo me trazem muitas lembranças dessa época, mas com certeza a maior delas é a convivência com meus pais que hoje não estão mais neste plano, mas com certeza estão felizes, talvez também lembrando dessa época.

Ainda faltou falar do presépio que eu adorava montar e das festas na Pedra Preta, interior de Irati, mas vamos deixar pra Coluna do ano que vem.

Um excelente 2024 a todos os leitores do Portal BnT, que seja um ano de amor, paz, prosperidade, saúde e principalmente muita harmonia e união entre as famílias.

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Roberto Ferensovicz

Roberto Ferensovicz

Servidor público municipal há 28 anos. Vice-presidente do Sindicato dos Servidores Municipais de Ponta Grossa (SindServ-PG)

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