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Inteligência Artificial na Educação: Oportunidades e Desafios

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Assim como os livros didáticos são submetidos a rigorosas avaliações antes da distribuição, as ferramentas baseadas em IA devem passar por auditorias

A inserção da inteligência artificial (IA) no âmbito educacional representa uma mudança significativa na maneira como se aprende e se ensina. No entanto, a implementação dessa tecnologia nas escolas requer um cuidado especial. Sem políticas inclusivas, regulamentação ética e uma abordagem pedagógica crítica, o que poderia ser um aliado valioso pode, na verdade, se transformar em um obstáculo à autonomia e à equidade no aprendizado.

Nos últimos anos, ferramentas baseadas em IA, como o ChatGPT, têm se tornado cada vez mais populares nas salas de aula ao redor do mundo. Elas proporcionam acesso rápido a informações, facilitam processos de aprendizagem e até contribuem para a personalização do ensino. Porém, especialistas alertam que essas tecnologias não são isentas de viés. Os algoritmos que as sustentam refletem as culturas, valores e preconceitos das sociedades em que foram desenvolvidos, muitas vezes centrados no ocidente. Isso pode resultar na imposição de uma visão de mundo restrita aos alunos brasileiros, perpetuando desigualdades culturais e epistemológicas.

A utilização indiscriminada da IA também pode incentivar a passividade entre os estudantes. Quando os alunos dependem de sistemas como o ChatGPT para responder perguntas ou resolver problemas sem uma mediação crítica adequada, corre-se o risco de prejudicar habilidades essenciais como o pensamento analítico e a criatividade. O excesso de confiança em ferramentas tecnológicas pode comprometer a autonomia intelectual dos estudantes, transformando-os em receptores passivos de informações ao invés de protagonistas no processo de aprendizagem.

Entretanto, é importante ressaltar que o problema não reside na tecnologia em si, mas sim na forma como ela é incorporada ao ambiente escolar. A experiência histórica com a introdução das calculadoras nas escolas serve como um exemplo elucidativo: inicialmente temidas por muitos educadores, as calculadoras não eliminaram a habilidade dos alunos em realizar operações matemáticas básicas; ao contrário, abriram espaço para desafios mais complexos. Da mesma forma, a IA pode enriquecer o aprendizado desde que acompanhada por uma metodologia pedagógica que valorize a reflexão crítica e a criatividade.

Um desafio crucial relacionado à adoção da tecnologia é garantir seu acesso democratizado. De acordo com dados do Comitê Gestor da Internet no Brasil, embora tenha havido avanços na conectividade, o acesso significativo à internet ainda é limitado. Em diversas regiões do país, especialmente nas áreas periféricas e rurais, estudantes muitas vezes dependem de dispositivos móveis com planos de dados restritos para acessar conteúdos educacionais. Essa disparidade não apenas prejudica a eficácia da IA como ferramenta pedagógica mas também reforça a exclusão digital, criando barreiras adicionais para aqueles que mais necessitam de oportunidades educacionais.

Iniciativas inovadoras como os cursos do DataLab no Complexo da Maré demonstram como a tecnologia pode ser utilizada para promover emancipação social. Nessas oficinas, jovens aprendem sobre conceitos complexos como algoritmos e reconhecimento facial enquanto discutem as implicações sociais e éticas dessas tecnologias. Contudo, projetos desse tipo ainda são exceções dentro do vasto contexto das dificuldades enfrentadas pelo sistema educacional brasileiro.

Outro aspecto preocupante diz respeito à utilização da tecnologia para fins de vigilância. A adoção de sistemas biométricos nas escolas públicas levanta questões éticas sérias. Em um país onde muitas comunidades carecem de infraestrutura básica — como acesso à água encanada — a implementação de tecnologias avançadas de monitoramento parece desproporcional e até contraproducente. Existe um risco real de intensificar o controle sobre populações marginalizadas; portanto, decisões nesse sentido devem ser acompanhadas por um amplo debate social e regulamentação rigorosa.

A solução não reside em proibir o uso da IA nas escolas — como já ocorreu em algumas instituições internacionais — mas sim em promover uma educação responsável quanto ao seu uso. Isso implica ensinar os alunos não apenas a utilizar essas ferramentas, mas também a entender seus limites e questionar os sistemas que as sustentam. A formação dos docentes deve ser uma prioridade nessa transição, capacitando os professores a integrar as tecnologias de forma crítica e criativa em suas práticas pedagógicas.

O papel do poder público é essencial nesse processo. Assim como os livros didáticos são submetidos a rigorosas avaliações antes da distribuição, as ferramentas baseadas em IA devem passar por auditorias para garantir sua segurança e adequação ética. Além disso, é vital investir na infraestrutura escolar e na formação contínua dos professores para criar condições que transformem a tecnologia em um recurso complementar ao invés de uma solução excludente.

Em última análise, o verdadeiro potencial da inteligência artificial não está em substituir professores ou automatizar tarefas educacionais; ele reside na capacidade da tecnologia de ampliar horizontes e estimular novas formas de pensar. Para isso, é necessário enxergar a educação como um processo coletivo e humanizador, no qual a tecnologia representa apenas uma dentre muitas ferramentas destinadas ao desenvolvimento integral dos estudantes.

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