O trabalho não incluía o abraço. Nosso mundo que segue em sinas de coisas a serem atendidas e gente que se torna em alguma coisa um especialista. E ele era alguém com prestígio irrefutável. É certo que tudo nos custa. Custa viver, custa ser alguém que se diferencie, custa atuar no mundo de forma prestigiável. Custam as despedidas. Depois de três anos acompanhando o profissional de trabalho irrepreensível, veio a despedida. Na madrugada, no relógio preguiçoso, no frio da noite, fui ter com ele onde tantas vezes o acompanhei. As sombras na noite são engraçadas, os galhos se movem, os assobios, eles rangem, assustam e divertem nas formas às vezes fantasmagóricas. Alto com seus cabelos grisalhos que a madrugada escondia, quando me avistou, abriu os braços e veio correndo. Aquele abraço cheio de ternura, um afeto que não foi mencionado na ordem de compra do serviço, não seria especificado na nota fiscal. Um carinho inerente aos corações receptivos, embora quase sempre não acompanhe um serviço.
Autoria: Renata Regis Florisbelo
Leia também: Pedro Sampaio agita o último dia da MünchenFest em PG neste domingo (26)