Na quarta-feira (09), o Conselho de Ética da Câmara dos Deputados decidiu, com um placar de 13 votos a favor e 5 contra, pela cassação do mandato do deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ). Em resposta à decisão, o parlamentar declarou que iniciará uma greve de fome e permanecerá no Congresso Nacional até que o processo de cassação seja completamente finalizado. Glauber acusou o ex-presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), de manipular os bastidores para garantir sua desqualificação política.
“Tomei a decisão irrefutável de não me deixar vencer por Arthur Lira ou pelo orçamento secreto”, afirmou Glauber em um pronunciamento intenso durante uma sessão marcada por acalorados debates e ofensas entre os parlamentares, que se estendeu por quase seis horas. Apesar das especulações sobre uma possível renúncia, o deputado reafirmou seu compromisso com o cargo.
Ainda é possível recorrer da decisão na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Caso o recurso avance, será necessário que o plenário da Câmara tome a decisão final.
A deputada Luiza Erundina (PSOL-SP), com 90 anos, expressou seu apoio ao colega, sugerindo que outros membros do PSOL se mantenham ao lado de Glauber durante esse período crítico.
Correligionários de Glauber levantaram suspeitas sobre um movimento orquestrado para apressar a votação na quarta-feira. Segundo eles, a estratégia envolvia atrasar o início da ordem do dia, momento em que as votações são realizadas. As líderes do PSOL e do PT, Talíria Petrone (RJ) e Lindbergh Farias (RJ), respectivamente, relataram que, diferentemente do habitual, o atual presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), não atendeu suas tentativas de comunicação.
Desde que Hugo Motta assumiu a presidência, as sessões começaram a ocorrer em horários progressivamente mais tardios. No entanto, em 18 de março deste ano, a ordem do dia teve início às 17h12, enquanto a votação sobre a cassação de Glauber começou somente às 18h20.
Durante a sessão anterior à votação da cassação, o deputado Fábio Costa (PP-AL), também do mesmo partido que Lira, apresentou um requerimento para iniciar os trabalhos. Costa defendeu sua ação como uma decisão pessoal.
O processo contra Glauber teve início em 2024 após um incidente notório onde ele expulsou fisicamente um membro do Movimento Brasil Livre (MBL) da Câmara. O caso ganhou ainda mais notoriedade pelo fato de que esse membro fez insinuações sobre a saúde da ex-prefeita Saudade Braga, que faleceu dias após o ocorrido.
Glauber reiterou várias vezes que acredita que o relatório resultante desse processo foi “comprado” por Lira. A relação entre Glauber e o relator Paulo Magalhães (DEM) foi tensa desde o começo do processo. Em resposta às críticas recebidas, Magalhães afirmou: “Sua defesa se incrimina” e defendeu sua atuação como discreta em relação ao presidente Arthur Lira.
O clima durante a sessão foi eletrizante; ao chegar ao local, Glauber foi acompanhado por militantes que gritavam slogans de apoio. Ele usou seu tempo para reiterar seus ataques a Lira e aos membros do MBL. Durante seu discurso, lembrou incidentes passados envolvendo Magalhães e pediu apoio aos seus seguidores.
Este episódio marca a segunda vez nesta legislatura em que o Conselho de Ética aprovou a cassação de um deputado. O primeiro caso foi o de Chiquinho Brazão (sem partido-RJ), que enfrenta acusações graves relacionadas ao assassinato da ex-vereadora Marielle Franco.
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